Mulher que sumiu após desembarcar em aeroporto teve corpo jogado em fornalha de laticínio, diz polícia

Segundo delegado, Lilian de Oliveira, 40 anos, foi morta e teve os restos mortais ocultados na empresa de um dos dois presos. Ela foi vista pela última vez ao sair do aeroporto de Goiânia, após chegar da Colômbia.

Lilian de Oliveira desembarcou no Aeroporto de Goiânia e desapareceu logo em seguida — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

A Polícia Civil anunciou, nesta segunda-feira (15), que concluiu as investigações sobre o caso de Lilian de Oliveira, de 40 anos, que sumiu após desembarcar no aeroporto de Goiânia. De acordo com a corporação, ela foi assassinada, teve o corpo carbonizado e jogado dentro da fornalha de um laticínio, pertencente a um dos suspeitos do crime. Ele e um comparsa estão presos.

Segundo as investigações, o laticínio pertence a Jucelino Pinto Fonseca, apontado como mandante do crime. Segundo a polícia, ele manteve um relacionamento extraconjugal com a vítima e se sentia “feito de bobo” por ela já estar com outro relacionamento. Conforme a investigação, o empresário perdoaria uma dívida de R$ 20 mil do amigo Ronaldo Rodrigues Ferreira, desde que ele matasse Lilian.

O delegado Thiago Martimiano, responsável pelo caso, disse que Ronaldo confessou ter assassinado a vítima com uma marretada na cabeça e que, em seguida, com o auxílio de Jucelino, queimou o corpo.

“Os objeto pessoais foram todos queimados. Depois, tiraram as cinzas, colocaram em um carrinho e descartaram no mesmo local onde são descartadas as cinzas do laticínio. É impossível [localizar os restos mortais]”, disse o delegado.
Anteriormente, o escritório Siffermann e Rocha Advogados Associados representava os dois presos. Mas, no domingo (14), a defesa enviou um posicionamento dizendo que trabalha somente para Juscelino e que só vai se manifestar após a conclusão da investigação “em respeito ao sigilo decretado nos autos” (veja a íntegra ao final do texto).

A partir de agora, Divino Diogo Leite é o responsável pela defesa de Ronaldo. Apesar de o delegado afirmar que ele confessou o crime, em nota enviada à TV Anhanguera, o advogado alegou que o cliente não teve coragem de matar Lilian e que quem a matou foi Jucelino (veja a íntegra ao final do texto).

O G1 tenta localizar, desde a manhã desta segunda-feira (15), o defensor de Ronaldo para que se posicione sobre o depoimento do cliente.

Crime

O delegado disse que, a pedido de Jucelino, Ronaldo chegou a passar 13 dias na Colômbia vigiando a vítima, mas não conseguiu cometer o homicídio. Uma mulher, que era babá da filha de Lilian, é suspeita de intermediar a viagem, bem como planejar a logística do crime.

Lilian desapareceu no dia 13 de fevereiro, após voltar da Colômbia, onde estava morando, e desembarcar em Goiânia. Uma câmera de segurança registrou quando ela entra em um carro após sair do saguão do aeroporto. Depois disto, ela não foi mais vista.

Ronaldo é o motorista do veículo visto buscando Lilian. Em depoimento, o homem explicou como cometeu o crime.

“Entre Goiânia e Bela Vista, a Lilian dormiu por causa da viagem. Ele parou o carro e desferiu um golpe de marreta na cabeça dela. Ela desfaleceu. Ele já tinha combinado com o Jucelino de que ia levar o corpo ao laticínio”, afirma.

Ronaldo afirmou à polícia que Lilian morreu logo após o golpe. Em seguida, ele parou o carro em um lixão, pois, segundo o delegado, havia combinado com Jucelino que só levaria o corpo mais tarde, quando o expediente do laticínio já tivesse sido encerrado.
Segundo polícia, Lilian foi queimada e teve o corpo jogado em fornalha — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Dívida e chantagem

Segundo o delegado Thiago Martimiano, Jucelino é casado, mas manteve um relacionamento com Lilian, com quem teve uma filha. Porém, atualmente, ela estava vivendo na Colômbia e estava se relacionando com outro homem.

“O Jucelino mostra um misto de sentimentos. Ele diz que nutria um afeto pela Lilian, mas, nas palavras dele, era feito de bobo, pois estava mantendo a filha e, eventualmente a Lilian, financeiramente, e ela já estava com outra pessoa e isso, nas palavras dele, o magoava muito. Além disso, ele se sentia extorquido e chantageado, pois a Lilian poderia dizer algo para a esposa dele, que não sabia tanto da existência do relacionamento quanto da filha que eles tinham”, contou o delegado.

Diante dessa situação, segundo o delegado, Jucelino pediu a Ronaldo Rodrigues Ferreira que matasse Lilian. “O Ronaldo devia de R$ 20 mil a R$ 30 mil e disse que faria o serviço, resolveria esse problema que o Juscelino narrava que tinha, em troca da quitação da dívida”, disse Martimiano.

Jucelino Pinto Fonseca foi preso suspeito de envolvimento na morte de Lilian de Oliveira — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Nota da defesa de Jucelino:

O escritório Siffermann e Rocha, observando o sigilo que ainda recai sobre a investigação do desaparecimento de Lilian de Oliveira, faz uso do presente para informar os veículos de informação que:

Na data de 29.05.2020, o escritório Siffermann e Rocha foi contatado por familiares de J.P.F, para exercer a defesa dos investigados J.P.F e R.R.F.

J.PF. e R.R.F eram conhecidos de longa data, sendo que a família do primeiro, em razão do apreço entre ambos e a hipossuficiência de Ronaldo, consentiu no patrocínio da defesa do último em um primeiro momento.

Essa banca entrou em contato pessoal com J.P.F no dia 30.05.2020, sendo que o mesmo estava recolhido na Decap de Goiânia desde 28.05.2020.

Na oportunidade, constatou-se que o preso estava machucado, diferente do que apresentava laudo do IML com resultado negativo para qualquer lesão.

Não fosse isso, após acesso a algumas informações, constatou-se que J.P.F fora ouvido por 3 vezes sobre os mesmos fatos, sem a presença de advogado, sendo a última vez em 30.05.2020, apresentando versões diferentes em todas as 3 oportunidades.

Diversamente do que tem sido afirmado pela atividade policial, dando aos suspeitos o etiquetamento de culpados, esta assessoria apenas levou ao juiz responsável pelo caso esses fatos, que foram ratificados pela Comissão de Direitos Humanos (presencialmente) e pela Câmara Municipal de Direitos Humanos de Goiânia, sem apontamento do que teria gerado as lesões no suspeito. A autoridade judicante, ao ficar ciente, determinou novo exame de corpo de delito que foi realizado no dia 02.05.2020 e constatou lesões.

Tal fato exigiu desta assessoria atuação responsável para manutenção da integridade de R.R.F, na ocasião em que este foi recambiado de Buriticupu/MA para Goiânia/GO.

Mantivemos contínuo contato com a delegacia de Buriticupu, bem como com a unidade prisional de Açailândia, acompanhando todo o trânsito de R.R.F para Goiânia. Como as informações não eram detalhadas, definimos que importaria fazer campana junto a Delegacia, naquela data, supondo que o suspeito havia se deslocado do Maranhão ainda na parte da manhã.

Outrossim, tomamos o cuidado de providenciar a presença de familiar durante a chegada de R.R.F em Goiânia, para que este sentisse seguro e pudesse solicitar roupas, produtos de higiene, razão pela qual contatamos o advogado Divino Diogo (primo de Ronaldo).

Após a chegada de R.R.F, o mesmo foi conduzido ao IML, sendo acompanhado pela equipe do escritório e pelo seu primo.

Em seguida, foi levado a delegacia onde requeremos acesso imediato ao preso, que inicialmente fora negado pela autoridade policial, forçando-nos a entrar em contato com o órgão de prerrogativas da OAB/GO para que finalmente nos fosse oportunizado contato.

O receio era que se concretizasse sobre Ronaldo as suspeitas do que teria ocorrido sobre Jucelino, sendo, portanto, uma medida preventiva. A atuação nos levou a falarmos com o suspeito, acesso, inclusive franqueado ao advogado, primo do suspeito, Diogo.

R.R.F ficara calado no seu primeiro interrogatório realizado em 05.06.2020, diligência que contou com a presença do Dr. Divino, advogado que seguia a nossa orientação técnica.

Por derradeiro, após entregar substabelecimento ao Dr. Divino, para que este pudesse ter acesso ao primo e nos auxiliar com as visitas ao preso, uma série de eventos (como questões contratuais e linha técnica adotada por cada advogado) implicou na retirada do escritório em relação a representação de R.R.F.

Não se sabe, por qual razão fora marcado novo interrogatório, uma vez que Ronaldo, desde o princípio, manifestou interesse em fazer uso do silêncio.

Em relação ao questionamento apresentado pelo G1, a respeito das declarações prestadas por R.R.F, necessárias as seguintes considerações:

1) há contradições nebulosas nas primeiras informações disponibilizadas. De início, R.R.F ficou calado e logo após, tenta atribuir culpa exclusiva a J.P.F;

2) não fora disponibilizada a defesa de J.P.F as declarações de Ronaldo prestadas no dia 12.06.2020, fato que ensejou, inclusive, tomada de medida judicial pendente de apreciação pelo plantão judiciário;

3) a defesa atual de R.R.F é realizada, exclusivamente, pelo advogado Divino Diogo, sendo que o escritório não se responsabiliza e não corrobora com as declarações prestadas a mídia no dia 12.06.2020, sobre um processo sigiloso;

4) em respeito ao sigilo decretado nos autos, a defesa de J.P.F aguarda a conclusão da investigação, o amplo acesso a toda documentação, para só então divulgar a versão que condiz com a verdade, pontuando todas as contradições apresentadas pelo investigado R.R.F.

Nota da defesa de Ronaldo

Em síntese da dinâmica dos fatos, Jucelino procurou Ronaldo para matar Lílian em troca do perdão da dívida de R$ 20 mil.

Jucelino custeou uma viagem de Ronaldo para a Colômbia para encontrar Lilian e matá-la. Chegando na Colômbia, Ronaldo não teve coragem de matar Lilian e voltou para o Brasil.

Jucelino insistiu para que Ronaldo desse carona para Lilian após o seu desembarque no aeroporto e aproveitasse a oportunidade para matá-la. Ronaldo novamente não teve coragem de matar Lilian e a entregou viva para Jucelino em seu laticínio em Santa Cruz.

Depois disso, Ronaldo ficou sabendo que Jucelino deu uma marretada em Lilian e a jogou na caldeira do laticínio.

É importante ressaltar que os advogados de defesa de Jucelino pressionaram Ronaldo na prisão para tentar convencê-lo a ser defendido pelo mesmo escritório que Jucelino contratou, dizendo inclusive que a defesa de Ronaldo já havia sido paga por Jucelino. E que, em caso de condenação de Ronaldo, Jucelino ajudaria sua família enquanto ele tivesse preso.

O advogado Divino Diogo, ao ficar sabendo dessa façanha, imediatamente foi a delegacia para orientar Ronaldo a revogar a procuração que havia assinado para os advogados de Jucelino.

A defesa de Ronaldo afirma que irá tomar medidas junto ao Tribunal de Ética da OAB para apurar as infrações cometidas pelos advogados de Jucelino por ter tentado cooptar o seu cliente.

Com informações de G1 Goiás

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