Tradição e Progresso em Catalão

Desenho ilustrativo da fundação de Catalão, feito por José Coelho Vaz (Imagem: Reprodução)

A cidade de Catalão se encontra em um momento histórico de transformação, cruzando a ponte que leva do passado ao futuro. Nessa jornada carrega, na bagagem, apenas o essencial. Qualquer entrave ou empecilho ao desenvolvimento econômico vai sendo eliminado. Menos a memória coletiva, impossível de ser apagada porque, entre cruzes e congadas residem os fundamentos culturais do município.

Se, por acaso, estiver distante, em qualquer lugar do mundo, e alguém lhe perguntar sobre sua terra, irá dizer primeiramente que Catalão é uma cidade média, situada no interior do território brasileiro, que tem uma economia bastante diversificada na indústria, comércio e agronegócio. Ou seja, uma cidade progressista, de passado relevante e que almeja ser ainda maior no futuro. Logo em seguida, irá relembrar a nostalgia do Morrinho de São João, do Morro das Três Cruzes, explicar a origem do nome de Catalão e descrever, com entusiasmo, as congadas na festa do Rosário.

São esses os pontos fundamentais que diferenciam Catalão de outras localidades e que fornecem identidade ao município. Formam as especificidades da história, da geografia do lugar e da tradição.

Como cidade progressista, Catalão paga um alto preço. As velhas elites vão sendo deslocadas, os sobrenomes vão perdendo sua antiga importância e as residências do passado estão sendo, pouco a pouco, demolidas. O espaço urbano vai tomando diferentes feições e as lembranças arquitetônicas vão sendo apagadas. Sinal de que Catalão tem priorizado o desenvolvimento econômico e não se encontra voltado para glórias antepassadas.

Toda cidade é resultante de um processo histórico particular que condiciona o seu futuro. Pirenópolis e a Cidade de Goiás, por exemplo, sobrevivem do turismo de conservação, tendo de preservar o passado arquitetônico, mesmo que isso comprometa a qualidade de vida dos moradores e a infraestrutura urbana. Caldas Novas, por sua vez, encontrou no lazer o eixo de sua economia, Rio Verde e Cristalina no avançado agronegócio e assim por diante. A própria capital, Goiânia, sobrevive como centro comercial varejista e do turismo de negócios.

Catalão avança no processo econômico e na busca de qualidade de vida para os moradores. Nem por isso, pode esquecer os fundamentos de sua existência. Um vilarejo que teve início em 1722, quando um bando de aventureiros se desgarrou da Bandeira do Anhanguera e aqui ficou plantando roças no vale do Pirapitinga. O local se tornou um afamado ponto de pouso, conhecido por Sítio do Catalão. As primeiras construções surgiram à beira do córrego e, com o tempo, ocuparam todo o vale, subindo pelas encostas do Pirapitinga.

No ano que vem, completam 300 anos que esse processo começou, na passagem do Anhanguera em julho de 1722. O marco histórico dessa época seria a cruz que esteve fincada no município e levada para Goiás Velho, onde ficou exposta por quase um século e depois encostada em uma parede de museu daquela cidade.

Não se trata de reivindicar a cruz de volta para Catalão, na verdade, um graveto depois de tanta chuva, sol e enchentes que enfrentou. Cultura não se faz alisando relíquias e sim através de vigorosas representações. O importante seria erguer um monumento no local em que foi retirada, criando um sítio histórico e traçando um corredor turístico, do rio Paranaíba até Catalão, em memória dos 300 anos da estadia do Anhanguera por aqui. Poderá ser um novo marco cultural para o município, eternizando sua origem e seu fundador.

Outra medida de representação cultural seria a elevação de três grandes cruzes de concreto, no alto do Morro das Três Cruzes, iluminadas à noite como o Cristo Redentor, visíveis em todo o vale do Pirapitinga. Afinal, a tradição do Morro das Três Cruzes é ainda mais antiga do que a bela capelinha do Morrinho de São João.

Por fim, a pauta mais importante se encontra na tradição cultural do município. As congadas de Catalão constituem o maior acontecimento religioso e folclórico regional. A sua continuidade e organização carecem do apoio das associações, clubes de serviço e entidades empresariais catalanas. Não somente de doações esporádicas ou auxílios fortuitos por ocasião da festa. É necessário institucionalizar e criar um aparato de segurança financeira para realização das congadas.

Criança vestida de congo, em desenho de José Coelho Vaz (Imagem: Reprodução)

A essência do evento é a religiosidade. A festa é apenas manifestação folclórica dessa profunda devoção a N.S. do Rosário. Tanto que, a irmandade sobrevive, há quase um século e meio, graças à abnegação dos capitães, ao esforço dos organizadores e a benevolência da comunidade. Trata-se de um evento cultural que identifica Catalão e que deve ser incentivado de todas as maneiras.

Um projeto interessante seria a realização frequente de ensaios, ao longo do ano, que servissem de fonte de renda para os ternos. Os ensaios seriam ocasiões de lazer para toda a população e, ao mesmo tempo, para momentos de expressão religiosa da comunidade. Para tanto, a primeira providência seria a criação de um espaço adequado para tal finalidade.

No todo, medidas compatíveis com o progresso do município e que perenizam os fundamentos culturais de nossa terra. Por: Luís Estevam

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