Todo Dia Morre Gente. Quem Está Certo?

Dia 03/10/2016, segunda feira à noite, em Catalão-GO, nosso amigo, o policial rodoviário federal Adu Celso de Barros, foi covardemente assassinado na presença de sua filha de apenas onze anos, idade tenra, mas suficiente para entender a gravidade do que ocorrera. Tal tragédia foi seguida de uma grande mobilização para a elucidação do crime e consequente captura dos suspeitos.

Não obstante a grande violência, reconhecidamente passível de acontecer com qualquer um de nós, certamente por isto, passou a ser manifestado, principalmente em redes sociais, certo apoio à ação, mas o questionamento, muitas vezes através de severas críticas, de porque “a Polícia não faz isso em todos os casos”, que se “tivessem este comprometimento estaríamos mais seguros”, etc.

Sinto discordar! Mas, com meu humilde conhecimento de causa, ouso justificar:

Tal força tarefa contou com vários policiais de folga, mais de sessenta de outras cidades e até de outros estados, além de policiais aposentados que se voluntariaram, por comoção com o irmão de luta ou por amizade, alguns com ele, outros com alguns policiais envolvidos. Também contamos com ajuda de cidadãos que de forma anônima iam nos passando informações, o que, infelizmente, não ocorre normalmente. Na maioria policiais que não tem a competência legal de investigar o crime, mas, na verdade, sem a ajuda deles nosso efetivo jamais teria capacidade de cercar toda a cidade e de saturar os contatos e endereços conhecidos do suspeito, até que ele se cansasse, sem ter para onde ir, e cometesse algum erro. No caso em tela, como não se sabia tratar-se realmente de uma tentativa de roubo, pela profissão da vítima, ainda havia justa preocupação com a segurança de seus familiares, que poderiam ser alvos de possíveis represálias.

Eu, por exemplo, fiquei exatamente quarenta e uma horas e meia consecutivas envolvido na missão, e agora, a delegacia que trabalho tem a responsabilidade da investigação para provar que realmente foram esses dois suspeitos quem praticaram o crime, além da desagradável responsabilidade de apurar se não houve excesso por parte dos policiais que reagiram à injusta reação do suspeito que veio a óbito. O que será feito de forma isenta e responsável, tenho certeza.

Uma equipe, de apenas quatro agentes de campo, está investigando todos os homicídios ocorridos em nossa circunscrição e, em alguns casos, já temos várias pessoas presas, à disposição da justiça, e mandados de prisão em aberto para autores foragidos, tudo com responsabilidade, deixando os julgamentos para o Judiciário e, se for o caso, para o Tribunal do Juri. Mas, apesar da importância da vida humana, seja de quem for, todas as últimas vítimas daqui tem alguma relação com atividades e atos criminosos, ou tinha a proximidade íntima com os criminosos. Confesso, talvez seja falha minha, que não sacrificaria minha folga, deliberadamente, afastando-me de minha família, para “fazer isso em todos os casos”, nem encontraria apoio de outros profissionais para tanto.

Estão todos os casos em investigação, embora a mesma equipe ainda tem o dever investigar, também, “desde o furto de galinha até o roubo de carga”.

Não sejamos hipócritas! Todos nós, quando em algum tipo de apuro, recorremos às pessoas amigas que tenham como profissão o conhecimento ou a capacidade para nos auxiliar no caso específico (policiais, médicos, advogados, juízes, contadores, mecânicos, etc), e queremos ser tratados com, devida ou indevida, deferência. No meu caso, pela natureza do meu trabalho, fico triste quando precisam de meus serviços, mas tenho prazer e satisfação em ajudar, mais satisfeito fico quando meus esforços resultam exitosos.

No caso de todos os policiais, é comum, mesmo entre seus familiares, serem lembrados tão somente nas horas de infortúnio e muitas vezes preteridos nas festividades. Muita gente se incomoda, talvez com razão, de ter por perto uma pessoa que “sabe-se lá porque, anda armada em seus momentos de lazer”. Sem esquecer alguns que se lembram dele, durante a madrugada, ao ser abordado por outro agente e, por algum motivo é passível de uma notificação (multa); só a título de exemplo.

Da mesma forma, alguns sabem da atuação da OAB quando do assassinato de um advogado recentemente, da imprensa quando da morte de um repórter por um morteiro, que ironicamente foi direcionado para os policiais que acompanhavam uma manifestação, mesmo lugar que estava direcionada sua câmera, indignação que é absolutamente natural, e assim deve ser.

Tentemos avaliar a situação, e a bravura, do policial militar que defendeu com o sacrifício da própria vida as pessoas que protagonizavam uma carreata em Itumbiara-GO! Dentre os agredidos estava alguém que pode ser considerado um de seus algozes, o Secretário de Segurança Pública, Vice Governador, Governador em exercício e, sabidamente, pré candidato ao Governo do Estado de Goiás, que está ajudando a fomentar uma injusta “campanha de desvalorização dos profissionais de segurança pública”. Analisemos a importância dada pelas autoridades e pela imprensa a este herói anônimo e sua família!

Queremos mesmo mudar isso? Então devemos aprender a cobrar de nós mesmos, cidadãos, e daqueles que têm a capacidade de legislar, de investir e bem treinar os policiais, mas, antes disso, e principalmente, na educação, na saúde, na orientação da cidadania e nas políticas públicas.

Pro bandido, fica dado o recado: “Nem toda vítima deixa apenas gente que chora e não tem capacidade de reagir”.

Que Deus abençoe nossas famílias!

Texto: Anderson Agapito – Policial Civil

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