Recenseadores do IBGE denunciam agressões verbais e recusa dos moradores ao Censo

Em Goiás, um recenseador informou ao O POPULAR que já foi chamado de vagabundo e ameaçado por um agente de segurança no setor Urias Magalhães

(Foto: IBGE)

Recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) denunciam agressões verbais de moradores e muitas recusas ao Censo 2022. Em Goiás, um recenseador informou ao O POPULAR que já foi chamado de vagabundo e ameaçado por um agente de segurança no setor Urias Magalhães, em Goiânia.

Lucas (nome fictício), que preferiu não se identificar, informou que antes de iniciar a coleta censitária, passou nas residências do setor deixando bilhetes explicativos sobre o início dos questionários. Um dos moradores mostrou sua identidade e documentação de posse de arma de fogo, ameaçando o recenseador e pedindo que se afastasse da residência imediatamente.

Em outra ocasião de agressão verbal, no mesmo setor, Lucas foi chamado de vagabundo. “Ele me xingou de muita coisa e voltou para dentro da casa simulando que ia pegar algo para me agredir se eu não fosse embora”, explica. De acordo com ele, a maioria das pessoas não sabe nem o que é o Censo e, por isso, apresentam muita resistência em receber os trabalhadores e responder os questionários.

Além do atraso nos pagamentos, o recenseador goiano também reclamou da demora na assistência da supervisão aos trabalhadores em campo. “Não tem segurança, não tem vale transporte, não tem vale-alimentação, não tem salário base. Se eu tivesse outra oportunidade, eu deixaria o IBGE hoje”, desabafa.

Censo 2022

Muitos moradores tem medo de receber pessoas desconhecidas em suas residências por medo de sofrerem golpes financeiros, agressões verbais, sexuais e físicas. Outros nem mesmo sabem do que se trata as pesquisas ou nunca ouviram falar no IBGE. O Censo, no entanto, é realizado de 10 em 10 anos e as informações coletadas são de extrema importância para toda a população.

O jornal O POPULAR está em um grupo com recenseadores de todo o país e as denúncias são diversas. “Sou do Rio de Janeiro e muitos nem sabem o que é Censo e muito menos o que é IBGE. Acho que é falta de divulgação e informação”. Informa uma participante.

“Aqui em Fortaleza também, algumas pessoas não sabem nem o que é IBGE e muito menos a estatística em si. Outros fingem não estar em casa, ontem mesmo um senhor fingiu não estar e depois fugiu com o carro. Alguns se recusam, pois acham que vamos roubar os dados deles ou que iremos divulgar informações”, informou outra participante.

Além da contagem populacional, a pesquisa traz informações sobre condições de vida, emprego, renda, acesso a saneamento, saúde e escolaridade, entre outros. É por meio do Censo que o Governo consegue traçar um retrato real abrangente de todo o país e criar políticas públicas em cima das necessidades da população.

Para evitar o medo da população, todos os recenseadores do IBGE estão identificados com boné, colete, crachá e o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC). Dentro do crachá há um QR Code que pode ser lido pelo celular. Com isso, o cidadão pode confirmar o nome, a foto do recenseador e verificar se ele realmente pertence ao quadro de servidores do Instituto.

Atraso nos pagamentos

O Instituto emitiu uma nota reconhecendo o atraso no pagamento da ajuda de custo de quase um terço dos trabalhadores já treinados para o Censo 2022. Confira a nota na íntegra:

“Primeiramente gostaríamos de nos desculpar pelos transtornos causados na demora da liberação do pagamento da ajuda do treinamento. O grande volume de dados pessoais dos recenseadores cadastrados no sistema e processados em curto espaço de tempo acabou ocasionando lentidão no pagamento dos valores. Já foram treinados 158 mil recenseadores até a presente data, dos quais mais de 113 mil já receberam a ajuda do treinamento. Constam ainda pendências nos pagamentos de pouco mais de 44 mil recenseadores, que serão sanadas na próxima semana. Ressaltamos que, após essa etapa de cadastramento, não haverá mais atrasos ocasionados por esse motivo. O IBGE informa que o orçamento do Censo está garantido e segue trabalhando para regularizar todos os compromissos administrativos e operacionais do Censo 2022”

O treinamento ocorreu de 18 a 22 de julho, conforme edital divulgado no site do órgão. Em outra página oficial do Instituto, a carga horária das aulas é detalhada: oito horas por dia, durante cinco dias, em 10 mil salas de aula espalhadas pelo país.

Obrigatoriedade das perguntas

De acordo com a Lei nº 5.534 de 14 de novembro de 1968 e com o Decreto nº 73.177, de 20 de novembro de 1973, toda pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, é obrigada a prestar as informações solicitadas pelo IBGE.

A legislação determina ainda a multa de até dez vezes o maior salário-mínimo vigente no país, se o infrator for primário; e de até o dobro desse limite, quando reincidente.

O pagamento da multa, porém, não exonera o infrator da obrigação de prestar as informações dentro do prazo fixado no auto de infração mas o pagamento poderá ser — dispensado se as informações forem prestadas pelo infrator primário.

Com informações O Popular.

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