Portaria 666, assinada por Moro, abre espaço para deportação de Glenn Greenwald

Sergio Moro na CCJ do Senado/ Foto Pedro França Agência Senado

A portaria, publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (26), vem desenhando um processo autoritário do ex-juiz Federal Sérgio Moro contra o jornalista Gleen Greenwald, do site The Intercept. Glenn vem denunciando, a mais de um mês, junto de outros veículos e jornalistas, as irregularidades e vícios no processo de condução da Lava-Jato, maior operação anti-corrupção no Brasil até então e responsável, ainda que indiretamente, por alçar Bolsonaro à Presidência da República.

Hoje, pela manhã, em resposta a prisão dos supostos hackers que teriam invadido os celulares de autoridades, o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, disse que Sergio Moro lidera um grupo de criminosos, e que “usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”.

REPRODUÇÃO/METRÓPOLES

A portaria nº 666, publicada hoje, determina como estrangeiros podem ser deportados ou simplesmente expulsos do Brasil. “regula o impedimento de ingresso, a repatriação, a deportação sumária, a redução ou cancelamento do prazo de estada de pessoa” que tenha praticado “ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição”, diz parte do texto. Parlamentares de oposição acusam a portaria de “flagrante ameaça e um atentado à liberdade de imprensa”.

Com a prisão dos hackers, no início da semana, Moro se apressou. Chegou a afirmar que as conversas seriam destruídas. Foi desautorizado pelo Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). “Só o judiciário pode determinar que mensagens sejam destruídas”.

Embaraçado, não fez o que deveria: atestar ou não a autenticidade dos diálogos da Lava-Jato assim que teve acesso, como sugeriu Glenn, mas, ao contrário, adiantou o caminho para que as mensagens fossem destruídas, e foi neutralizado.

Em recente entrevista exclusiva aos jornalistas Guilherme Waltenberg e Eumano Silva, do Portal Metrópoles, o editor do Intercept acusa Moro de perseguir o jornalismo. “Desde o começo [o ministro da Justiça e Segurança Pública] Sergio Moro está usando a linguagem para criminalizar o nosso jornalismo”.

Questionado sobre ter notado ou não alguma diferença no comportamento do ministro Moro e de outras autoridades nos últimos dias, com novos vazamentos, Glenn disse não entender como Sergio moro pode estar envolvido nessa investigação. “Sobretudo comandando uma investigação quando ele tem um óbvio conflito de interesses, visto que ele era o principal alvo da nossa reportagem e, ao mesmo tempo, está investigando. Nenhuma democracia permitiria isso”, respondeu.

O país, no caos. O Presidente, em paralelo, parece não se importar. A credibilidade do ex-juiz e as revelações sobre a operação seguem. De maio a junho, Moro perdeu 10 pontos percentuais nos índices de popularidade, segundo pesquisa da consultoria Atlas Político.

A portaria publicada hoje aparece como um novo ato do ex-juiz para aterrorizar quem faz jornalismo profissional e de interesse público no Brasil. Desassossegados, vamos aguardar novas revelações da #VazaJato. “O mais bombástico ainda será publicado”.

Confira a íntegra da portaria publicada no Diário Oficial.

Escrito por:

Osmam Martins tem 23 anos, é jornalista e assessor de comunicação.

Twitter: @omarttins_

A coluna de política nacional, assinada pelo jornalista Osmam Martins, não reflete a opinião do veículo, tampouco de colaboradores e outros colunistas do blog.

 

Comentários