“Personal Police” – Manual para familiares, agregados, amigos e vizinhos de policiais

O presente artigo, em linguagem usual, sem carga de termos técnicos ou jurídicos, não tem a pretensão de esgotar o assunto, até porque são quase infinitas as nuances da atividade policial e as suas possíveis necessidades, mas sim trazer o básico para que você não tenha aborrecimentos desnecessários e ainda assim usufrua da disponibilidade de seu “Personal Police”, mesmo daquele que nunca se lembrou de convidar pra sua festa de aniversário ou mesmo um churrasco de última hora.

1- policial não é xerife do bairro, nem do qual ele mora, então não colocará ordem na sua vizinhança, nem deve se abster de seu convívio familiar pra vigiar as atitudes dos vizinhos, esse papel cabe aos fofoqueiros;

2- não resolve aquele problema de som alto que você não tem coragem de reclamar com o autor ou ir a uma delegacia denunciar;

3- Quem educa seu filho é você, então não peça que o policial “dê um susto, uma prensa, uma taca”, ou qualquer coisa similar, pois quem não aprendeu a respeitar pai e mãe não respeita quem é de fora. Medo da Polícia até bandido tem;
4- ele é obrigado a pagar multa de trânsito quando comete infração, de forma que não consegue “tirar a multa” que você eventualmente tomou no trânsito;

5- o artigo 321 do Código Penal Brasileiro prevê o crime de advocacia administrativa, que consiste em patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário, o que significa que o policial é proibido de “dar aquela forcinha” e pedir que outro agente público “deixe de lado” quando você der “aquela vacilada”;

6- por mais impressionante que possa parecer, ele folga, e mesmo quando está trabalhando não está só, o que obriga a movimentar uma equipe, ou pelo menos prejudicar o trabalho desta, para te atender;

7- o “Personal Police” é de uso pessoal, ou seja, quando se deparar com outrem em dificuldade, não o empreste, ligando pra ajudar “aquele parceiro” que arrumou uma “latada”, evite “prestar continência com o chapéu alheio”;

8- quando ele, a trabalho, te flagrar em local inadequado, não se chateie se não te tratou com aquela deferência que você merece. Via de regra esses locais têm pessoas que não gostam dele, então não pense que ele é arrogante, “convencido”, ou quis aparecer pros colegas, pois ele vai embora e essas pessoas ficam, podendo não gostarem de ver alguém tão amigo de Polícia permanecer junto a elas. Ele estará sendo mais seu amigo que você pensa;

9- antes de arrumar, ou aceitar, confusão com terceiros confiando na intervenção de seu “Personal Police”, lembre-se que o outro também pode ter um, e a situação pode ficar mais complexa do que você imagina;

10- o artigo 340 do Código de Processo Penal prevê punição para quem provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado, então, ao acioná-lo, não minta, pois acreditando que o ilícito aconteceu, ele terá de agir como profissional, e será obrigado a revelar quem o acionou caso responda por algum excesso;

11- o jargão “policial está de serviço 24 horas por dia” nasceu do disposto no artigo 301 do Código de Processo Penal, que obriga às autoridades policiais e seus agentes a prenderem quem quer que seja encontrado em flagrante delito, não significando então que ele não durma, não coma, não beba e não tenha lazer, nem tampouco que tem peito de aço e resolverá “a parada” sozinho;

12- desta obrigatoriedade, e para a própria segurança e de seus familiares, ele é obrigado a portar sua arma, além do fato de ser responsável pela sua cautela, não podendo deixá-la em casa, na casa da “mamãe”, dentro do carro, ou em qualquer lugar que não domine sua guarda, então, se você é da cultura “paz e amor”, ou tem “medinho” de numa eventualidade este ser obrigado a agir, pense em rever seus conceitos sobre amizade, ou ele não é bom o suficiente pra ser seu amigo;

13- a atividade policial é complexa, e obrigatoriamente deve obedecer à lei, de forma que “dar um susto” ou “dar uma prensa” pra solucionar o crime de que você foi vítima pode caracterizar outro crime, e quem responderá por ele é o agente, não você;

14- aula de armamento e tiro exigem locais adequados e obediência a uma série de normas de segurança, então nada de pedir esse tipo de instrução em momentos de lazer, principalmente regados a bebidas alcoólicas;

15- pasme! Um policial é um ser humano normal. Não lê mentes, não tem poderes mediúnicos e nem bola de cristal, só podendo recorrer a informações, imagens, indícios e à própria inteligência e tirocínio. É humanamente impossível solucionar todos os crimes que lhe são apresentados.

Se ainda assim acreditar que vale a pena ter um amigo policial pra chamar de seu, seja amigo dele também. Posso garantir que ambos irão se beneficiar desta relação, sem prejuízo a vocês e a terceiros.

Escrito por: Anderson “Agapito”, PCGO.

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