Pássaros apreendidos chegam em estado crítico ao Cetas Catalão (GO)

Canário-da-terra machucado passando por triagem no Cetas de Catalão (GO) – (Foto: Cetas Catalão)

Com uma grande extensão territorial e climas diversos, o Brasil possui uma rica biodiversidade de espécies de aves. De acordo com a BirdLife International, atualmente existem 10.426 espécies de aves, sendo que 1.971 são encontradas no Brasil, segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Com cores vibrantes e cantos que encantam, esses animais atraem admiradores, como também aqueles que visam o lucro com essa beleza.

O tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilícita do mundo, ficando atrás do tráfico de armas e drogas. Anualmente, milhões de animais silvestres são retirados da natureza, especialmente as aves, que são comercializadas no país e no exterior, transportadas em situações críticas e alocadas em gaiolas e caixas em ambientes insalubres.

Analisando o banco de dados dos pássaros silvestres apreendidos e encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (Cetas), em Goiás, as apreensões ocorrem geralmente no início do ano, com o mesmo protagonista, o canário-da-terra (Sicalis flaveola), e infratores já conhecidos, que utilizam os pássaros em rinhas e comércio ilegal.

Através de denúncias que indicam os caminhos dos traficantes, recentemente foram realizadas apreensões de aves. Além do canário-da-terra, foram encontrados curió (Sporophila angolensis), coleirinho (Sporophila caerulescens), baiano (Sporophila nigricollis), trinca-ferro (Saltator similis) e o ameaçado de extinção bicudo (Sporophila maximiliani). Durante a triagem, constatamos aves mutiladas, com penas quebradiças, feridas e debilitadas, além de as gaiolas estarem em estado deplorável com pássaros mortos dentro.

Apesar de receberem multas, essas são extremamente reduzidas e raramente são pagas. Os traficantes ainda são liberados. A legislação determina a detenção de até um ano e uma multa que varia de R$ 500 por pássaro de espécie não ameaçada e a R$ 5 mil por animal de espécie ameaçada. No entanto, sabemos que inúmeros pássaros ainda serão vítimas dessa ilegalidade.

Infelizmente, parte desse problema é de caráter cultural, pois desde o ano de 1500, com a chegada dos portugueses, é comum manter e comercializar animais silvestres no Brasil. De volta a Portugal, os colonizadores levavam consigo espécimes (vistos como exóticos) no intuito de mantê-los em cativeiro e criando um negócio lucrativo. Atualmente, ainda é uma prática comum manter pássaros silvestres como animais de estimação ou para as competições de canto.

Gaiola que abrigava pássaro – (Foto: Cetas Catalão)

As autorizações de criadores amadores (onde a venda não é permitida) e de criadores comerciais são portas para o comércio ilegal, onde os proprietários se beneficiam das licenças e visam o lucro da comercialização. Muitos não possuem condutas adequadas, são multados e perdem suas autorizações, no entanto, continuam com a atividade. Nas apreensões, alegam que os pássaros são legalizados, pois possuem anilhas (na verdade, são falsas ou adulteradas), porém não apresentam os documentos comprobatórios da regularidade do animal.

Acreditamos que a educação ambiental é uma ferramenta fundamental na mudança cultural, sendo possível mostrar através de ações e atividades lúdicas o papel da fauna em vida livre. Os animais competem na natureza, com o menos favorecido se recolhendo e buscando outros caminhos. Os pássaros que participam de rinhas não tem escolha: como fugir dentro de uma gaiola? O combate só acaba quando um perde a vida.

Por Bruna Almeida

Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)

*Com informações de Fauna News

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