Origem do nome Catalão

O nome é muito antigo. Para se ter uma ideia, quando D. João VI veio para a colônia brasileira, em 1808, Catalão já tinha mais de 80 anos

Projeto da Praça do Córrego do Almoço, em memória do fundador de Catalão (Imagem: Reprodução)

Catalão é um dos poucos lugares que, em três séculos, nunca trocou de nome. Começou com uma sesmaria (Sítio do Catalão), recebeu doação de terreno paroquial (Povoado do Catalão), iniciou melhorias urbanas (Arraial do Catalão), ganhou limites municipais (Vila do Catalão) e alcançou a emancipação política (Cidade de Catalão).

O nome é muito antigo. Para se ter uma ideia, quando D. João VI veio para a colônia brasileira, em 1808, Catalão já tinha mais de 80 anos. Quando o Brasil declarou sua independência, em 1822, o Arraial do Catalão completava um século de existência. Quando ocorreu a abolição dos escravos (1888) e a proclamação da república (1889), um morador da cidade de Catalão participou da elaboração da primeira constituição brasileira (senador Antônio Paranhos).

Contudo, não sabemos o nome de batismo do fundador de Catalão. É um mistério que encanta pesquisadores e alimenta os estudos historiográficos regionais. A origem do lugar se tornou um enigma e acabou virando mito. Isso não é depreciativo, pelo contrário, é mais um motivo de orgulho! A história da Grécia começou com os poemas mitológicos de Homero, o nascimento de Roma veio com a lenda de Rômulo e Remo (amamentados por uma loba) e a memória de Portugal teve início nos versos poéticos de Camões. A mitologia é universal e não permite que a modernidade destrua a tradição dos diferentes povos.

Dizem que foi um espanhol que fundou Catalão. Não foi. A Catalunha foi anexada à Espanha em conflito bélico, mas seu povo nunca se curvou ao domínio castelhano. Os catalães jamais aceitaram de bom grado o jugo dos espanhóis. Se tinha algo que um catalão (nascido na Catalunha) detestava era ser confundido com um castelhano, já que o seu país fora massacrado na guerra de unificação espanhola. Até hoje os filhos da Catalunha nem castelhano falam. Têm a sua própria língua, carregam os seus costumes e tradições, veneram a sua bandeira particular e elegem as suas próprias autoridades. Não consideram Madri como a sua capital e sim a velha Barcelona. Se hoje é assim, imagina nos tempos da guerra.

Na época dos bandeirantes, o ódio dos catalães aos espanhóis era muito grande. As feridas estavam abertas. As duas nações tinham acabado de sair de um doloroso conflito europeu. Na guerra, em 1701, ao invés de se alinhar aos castelhanos, a Catalunha formara fileira com o Arquiduque Carlos da Áustria, em sangrentas batalhas que duraram mais de dez anos. Quando, por fim, os castelhanos massacraram a Catalunha, proibiram o idioma catalão e todas as suas instituições. Inúmeros filhos daquela nação foram perseguidos e mortos.

Foi justamente a época em que levas de espanhóis e catalães, destroçados pela guerra, vieram parar no território da colônia brasileira. Aventureiros, acostumados a duras intempéries, muitos integraram expedições que partiam em busca de ouro pelos sertões.

Naquele tempo, quase ninguém ostentava algum nome próprio. As pessoas eram conhecidas pelo lugar de origem, um costume muito antigo. Na Idade Média, por exemplo, apenas os mais destacados agregavam um nome à sua cidade de origem, como Francisco de Assis, Antônio de Pádua, Miguel de Cervantes, Tomás de Aquino, Manuel de Nóbrega, Tereza de Ávila, Pedro de Alcântara etc. Mesmo antes, na antiguidade, os personagens carregavam a localidade de nascimento: Jesus de Nazaré, Judas da Galileia, Paulo de Tarso, Cosme da Alexandria e assim por diante.

Até mesmo na colônia brasileira, aqueles que nasciam na costa (litoral) faziam questão de destacar: Antônio da Costa, Manoel da Costa, Joaquim da Costa etc. O mesmo ocorria com os que tinham origem nos sertões (silva, em latim): Antônio da Silva, Bartolomeu Bueno da Silva, Mariano da Silva, Sebastião José da Silva e assim por diante.

No caso do filho da Catalunha, tudo indica que havia uma clara insistência dele em dizer que era catalão e não espanhol ou português. Fato que pode ter gerado, desde os primórdios, a denominação Sítio do Catalão.

Segundo relatos do século XVIII, em 03 de julho de 1722, uma comitiva de aventureiros, com quase 200 homens, deixou a capitania de São Paulo com a intenção de descobrir ouro em território dos indígenas goyases.

Compunham uma bandeira organizada sob o comando de Bartolomeu Bueno da Silva. Entre eles havia escravos africanos, vários bandeirantes paulistas e alguns imigrantes da península ibérica. Atravessaram o sertão da Farinha Podre (Triângulo Mineiro) e cruzaram o rio Paranaiba no local indicado como Porto Velho. Seis léguas adiante, alguns membros da expedição ficaram “plantando roças” e o restante seguiu viagem. Entre os que ficaram, estava o lusitano Frei Antônio da Conceição acompanhado de um sobrinho, poucos escravos e alguns “espanhóis”.

Depois de algum tempo, o frade português, Frei Antônio da Conceição, retornou a São Paulo, deixando seu sobrinho a cuidar das roças, juntamente com um pequeno grupo de aventureiros.

Ficaram esquecidos nesse ermo de mundo. Pelo menos nos documentos oficiais, pois no lugar não se encontrou ouro. Mas, 14 anos depois saiu o registro da primeira notícia. Em passagem pelo “Sítio do Catalão” foi assassinado um alferes da cavalaria paulista, em 1736, morto em uma desavença pelo filho do bandeirante Domingos do Prado.

Dali em diante, o lugar conhecido pela denominação “Catalão” foi sendo perpetuado em Arraial, Vila e Cidade.

É certo que, até hoje, não se sabe o nome do imigrante que protagonizou a fundação do lugar, conhecido somente pela alcunha de “catalão”. Mas, pela sua origem, depreende-se a personalidade e o caráter desse pioneiro. Na tradição do mito, nele sobravam independência, teimosia, bravura, carisma e liderança. Caso contrário, não seria tão lembrado através dos séculos.

Escrito por: Luís Estevam

Luiz estevam é doutor em Economia pela Unicamp, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e da Sociedade Goiana de História da Agricultura (SGHA).

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