Memorial do Córrego do Almoço

Praça do Córrego do Almoço, construída em 1965 e posteriormente abandonada e destruída. (Foto: Reprodução)

Catalão nasceu na parte meridional do Pirapitinga e, durante mais de um século, a Rua da Grota era o centro dinâmico da cidade. Ali estavam as casas comerciais, as indústrias e a maioria da população.

Para quem viesse do Triângulo Mineiro, a primeira parada, ao se aproximar de Catalão, era no Córrego do Almoço. Um riacho límpido, cercado de árvores, que servia para descanso dos carros de boi, carroças e cavaleiros que chegavam ou saíam da cidade. Ninguém seguia adiante sem, pelo menos, molhar o rosto no pequeno manancial.

Durante muito tempo, o Córrego do Almoço foi o portal de Catalão. Era lugar de tocaia, ponto de despedida e local de boas vindas a visitantes do lugarejo.

Nas primeiras décadas do século passado, vários foram os casos de barbaridades e execuções cometidas por jagunços naquelas imediações. Nesse aspecto, o local era estratégico. Facilitava a fuga para o rio Paranaíba e Minas Gerais, caso alguma coisa desse errado. Inclusive, no martírio do Antero pelas ruas de Catalão, em 1936, tudo indica que a intenção era arrasta-lo até o Córrego do Almoço para suplício e execução. Mas, o farmacêutico não suportou a jornada, prostando sem vida a meio caminho.

O Córrego do Almoço servia também de ponto de despedida e de recepção a forasteiros. Quando alguém era expulso da cidade, uma comitiva de jagunços acompanhava o desafeto até o pequeno ribeirão, aguardando que sumisse no horizonte da estrada. Fato ocorrido com Moisés Santana que, ao ser obrigado a fechar seu jornal, em 1909, foi monitorado na sua partida para fora de Catalão. No entanto, quando um visitante ilustre chegava à cidade, uma festiva caravana ia espera-lo na travessia do córrego, conduzindo-o a seu destino.

A tradição do Córrego do Almoço antecede a própria formação do território goiano. Dizem que foi ali, naquele manancial, que o bandeirante Bartolomeu Bueno lavou suas botas antes de prosseguir viagem pelo sertão.

A expedição do Anhanguera adentrou em terras goianas em julho de 1722. Atravessou o rio Paranaíba na altura do Porto Velho e ergueu uma cruz nas proximidades do ribeirão do Ouvidor. Léguas adiante, nas imediações do Córrego do Almoço, alguns integrantes da bandeira ficaram plantando roças, aguardando o retorno da expedição. Entre eles, um indivíduo da Catalunha, conhecido pela alcunha de sua origem: o catalão.

Com o tempo, o ambiente febril e tradicional foi se alterando naquele sítio. Durante longo período, o Córrego do Almoço ficou esquecido, ganhou depois uma bela praça, mas foi novamente abandonado e, por fim, canalizado em parte do seu percurso.

A transformação começou em 1913, quando a linha férrea repartiu a área ao meio e desviou parte do manancial para uma caixa d’água que alimentava as locomotivas. Pouco tempo depois, algumas chácaras, nas redondezas, canalizaram água do riacho que foi, aos poucos, definhando. Por cima, o alagado do pequeno córrego, na travessia da estrada, era utilizado para lavagem de jardineiras e automóveis que transitavam pelo local.

Durante todo esse tempo, o Córrego do Almoço não havia recebido qualquer benfeitoria ou medida de preservação. Mas, sabedor de sua importância para a memória da cidade, o prefeito Paulo Hummel, na metade da década de 1960, idealizou e realizou um projeto para o local. Colocou um pontilhão sobre o córrego, protegeu suas margens e urbanizou a área. Construiu um lago circular de concreto e batizou o sítio de Praça do Córrego do Almoço, conservando o nome tradicional.

No entanto, com o tempo e sem a devida conservação, o mato cobriu tudo e a obra de Paulo Hummel foi abandonada. Até que, em administrações posteriores, o riacho foi canalizado, apagando os tradicionais vestígios de outrora.

Praça do Córrego do Almoço, construída em 1965 e posteriormente abandonada e destruída. (Foto: Reprodução)

Todavia, a memória do Córrego do Almoço continua viva na mente de muitos catalanos. Neste sentido, o prefeito Adib Elias Júnior, ciente da importância histórica e afetiva daquele logradouro, encomendou um projeto para revitalização da área. A intenção do prefeito é transformar novamente o Córrego do Almoço em um portal da cidade. Para tanto, convidou historiadores, além de pessoas ligadas ao meio ambiente e à cultura, para o renascimento da mais antiga memória do município, onde tudo começou. (Luís Estevam)

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