Mãe de 227 filhos e 3ª maior produtora de leite do mundo: morre vaca ‘xodó’ da pecuária brasileira

Durante toda a vida, ICH Canela Teatro, da raça girolando, foi monitorada pelo laboratório ABS, em Uberaba. Ela, que morreu em Morrinhos (GO), produziu mais de 100 mil litros de leite e teve a genética procurada por vários produtores.

Vaca ICH Canela Teatro, ícome da raça girolando, morreu aos 20 anos — Foto: ABS/Divulgação

Ícone entre os animais da raça girolando no Brasil, a vaca Canela Teatro morreu nesta semana após 20 anos de vida. Ela era reconhecida em todo o mundo pela produção de leite e pela qualidade genética, com 227 filhos registrados – muitos deles, premiados internacionalmente.

ENTENDA: Conforme a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, a raça girolando é genuinamente brasileira e consiste no cruzamento de animais das raças Gir e Holandesa. Esse tipo de rebanho é muito utilizado na produção de leite no país.

Canela foi monitorada pelo laboratório ABS, em Uberaba, especializado em melhoramento genético. A reportagem, o coordenador de Produto e Atendimento ao Cliente Leite da empresa, Fernando Rosa, explicou que esse processo é cada vez mais comum no ramo da pecuária leiteira.

“Não existe mais o acasalamento pelo touro da moda, existem estudos profundos que definem qual o touro para cada vaca a depender do ambiente”, afirmou.

Após ter o primeiro parto, a grande quantidade de leite produzido pela vaca chamou a atenção dos especialistas. Enquanto outras novilhas produziam 15 litros, Canela Teatro deu 40 litros logo na primeira cria.

Com tamanha produtividade, ICH Canela Teatro bateu um recorde: foi a primeira vaca da raça girolando a atingir a marca de 100 mil litros de leite produzidos durante toda a vida. Ela também foi a terceira vaca que mais produziu leite na história da raça.

Além do leite, os genes de Canela Teatro também são considerados “minas de ouro” pelos especialistas em genética, por terem produzido uma prole igualmente produtiva.

Percebemos sucesso na produção de leite, na venda de sêmen e de touros melhoradores e na venda de filhas da Canela em leilões com grande valor agregado. O sêmen do primeiro touro filho da Canela teve alcance internacional, foi exportado para vários países. Tivemos resultados espetaculares na produção de animais com conformação desejável, como capacidade de locomoção e estrutura corporal”, lembrou.

Ao todo, Canela Teatro teve 163 filhas e 64 filhos registrados – muitos, gerados a partir do cruzamento feito com sêmen de touros em laboratório. Após a fecundação, os embriões eram inseminados na Canela e também em outras vacas, usadas como “barriga de aluguel” na gestação.

“Canela merece toda homenagem pela qualidade de suas progênies. Quebrou o paradigma de que só reprodutores fossem referência de melhoramento genético. Uma vaca que fica registrada na história da raça girolando como uma das mais importantes fêmeas, por sua grande contribuição à produção leiteira”, ressaltou Fernando.

“Presente de Deus”

ICH Canela Teatro vivia na fazenda do pecuarista José Renato Chieri, em Morrinhos (GO). Ao g1, ele contou que a vaca nasceu a partir de um lote de embriões congelados que ele tinha guardado.

“A Canela era de uma família que já tinha mãe recordista e filha recordista. Depois, vários filhos e filhas dela também foram do top genômico da raça”, lembrou.

Após 20 anos de vida, Canela morreu por conta da idade avançada. Além do legado para a raça girolando, ela também deixou saudade para os que cuidaram dela.

“Tínhamos um carinho muito especial, ela estava aposentada já havia cinco anos, e nós ficamos cuidando dela. Ela foi um presente de Deus, um embrião congelado que nasceu e se destacou com filhas e filhos maravilhosos”, finalizou Chieri.

Fonte: G1 Triangulo Mineiro

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