LAVA-JATO: REORGANIZANDO A CORRUPÇÃO NO BRASIL

Tornando pública toda relação de políticos e grandes empresários em negociatas envolvendo dinheiro público, a operação Lava-Jato possui uma estreita relação com a operação ‘Mãos Limpas’ [Mani Pulite, em italiano], realizada na Itália em 17 de fevereiro de 1992, data em que a Procuradoria da República em Milão iniciava a operação. Alguns jornais brasileiros, como, por exemplo, a Folha de SP, afirmou que a operação da Itália serviu de inspiração para muitos policiais, procuradores e agentes envolvidos na operação brasileira.

A operação italiana investigou 4,5 mil pessoas, indiciou 3,2 mil e realizou cerca de 1,3 mil condenações, reordenando o modelo político italiano praticado até então. Um curioso acontecimento marcou essa operação: a extinção do Partido Socialista Italiano (PSI) e da Democracia Cristã, responsáveis pela liderança política do país desde o fim da segunda guerra mundial.

Considerando o escândalo político-midiático e a fragilidade que a operação levou ao país europeu, podemos fazer uma simples comparação entre os valores desviados [em dinheiro] na ‘Mãos Limpas’ e na ‘Lava-Jato’. As propinas denunciadas na Itália teriam chegado ao valor de 3,5 milhões de liras (1,8 milhão de euros, cerca de R$ 4 milhões de reais), e se comparada aos valores estimados pelo Ministério Público Federal (MPF) na Lava-Jato, a diferença é abismal, só no Brasil há estimativa de desvio de R$ 10 bilhões de reais, isso mesmo, bilhões.

No Brasil, a Lava-Jato terá filme, teve direito a circo midiático – no caso da condução coercitiva do ex-presidente Lula – e até suspeitas de atentados com intenção de barrar a investigação [a queda do jato que transportava o relator da Lava-Jato no STF]. Na Itália, e consequentemente no Brasil, o fim da operação pode representar uma desconfiança econômica junto ao mercado internacional, e a todo e qualquer partido que tenha se envolvido em alguma situação ilícita. Falando somente da operação Lava-Jato, identifica-se um esforço dos agentes envolvidos em fazer com que a operação leve “mais transparência e honestidade ao poder público”.

Infelizmente não podemos aceitar essa narrativa quando lidamos com máfias e grupos inteiros empenhados em lutar contra as ações judiciais e se manter no poder a qualquer custo. Como o próprio senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse em áudio divulgado após o grampo telefônico, as operações são sangrias, e os políticos, o sangue. Jucá antecipava que Aécio “será o próximo a ser comido”. Ele [Aécio] foi, mas não como deveria.

Uma importante comparação com a operação brasileira é a quantidade de acusações, que crescem de forma exponencial. Políticos, empresários ou funcionários públicos detidos acusam outros em seus depoimentos, ainda que sem provas. O esquema semelhante ao da delação premiada brasileira fazia com que eles confessassem os crimes por desconhecer o depoimento de colegas.

Motta Araújo, em seu artigo ‘O desastre político e econômico da operação ‘Mãos Limpas’ escreve que “Foi a partir da pista livre de políticos de tradição que surgiu um novo predador da pior espécie, Silvio Berlusconi, ex-cantor de navio e milionário da TV, ocupando o poder de 1994 a 2001, um finório, depravado e mais corrupto do que os antigos políticos (…)”. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.

Incontestavelmente o alvo principal da operação no Brasil é um líder notoriamente tradicional por aqui, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Lula. O oportunismo se mantém presente em momentos de instabilidade política, e neste sentido, coincidentemente como Silvio Berlusconi, o ex-apresentador de TV, milionário e atual prefeito de São Paulo (SP), João Dória (PSDB), se apresenta como uma nova promessa para a política e para o Brasil.

Legendas progressistas como o Partido dos Trabalhadores (PT) também são alvos certeiros em cada movimento dessa operação. A catástrofe com a ausência de lideranças abre espaço para aventureiros vindos de fora do sistema político. O fato é que as duas operações se baseiam principalmente no espetáculo midiático, no falso combate a corrupção – recriando um novo modelo com ágeis personagens – e com o desastre econômico permanente, maquiado diariamente pelo governo golpista de Temer.

O monumental fracasso da operação italiana reflete que o esforço da mídia e de parte dos políticos brasileiros em garantir a condenação de certas figuras mostra que não se quer acabar de fato com a corrupção, mas sim, substituir os antigos personagens por novos, recriando todo esse ciclo danoso para o povo e para o Brasil.

Osmam Martins tem 21 anos, é jornalista,
progressista e estuda a comunicação na teoria e prática.
Twitter – @osmam_martins

Comentários