Júri dos acusados de matar Valério Luiz: cinco testemunhas ouvidas e discussão entre defesa e acusação; veja como foi 1º dia

Valério Luiz foi morto a tiros no dia 5 de julho de 2012. Em um período de quase 12 horas de julgamento, cinco testemunhas foram ouvidas; um dos depoimentos durou quase 3 horas.

(Foto: G1 Goiás)

Após quatro adiamentos, o julgamento dos acusados de matar o radialista Valério Luiz foi iniciado nesta segunda-feira (7), no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), em Goiânia, e está na fase de depoimentos das testemunhas. O primeiro dia de julgamento durou quase 12 horas e contou com cinco depoimentos.

O primeiro dia de júri, que foi iniciado às 9h15 e encerrado às 20h53, foi presidido pelo juiz Lourival Machado da Costa, da 4ª Vara Criminal de Crimes Dolosos Contra a Vida. A sessão de depoimentos foi encerrada com discussões entre defesa e acusação.

De acordo com o TJ-GO, ao todo, devem ser ouvidas 24 testemunhas durante todo o julgamento, sendo 5 do Ministério Público, cinco arroladas por Ademá Figueiredo, cinco por Djalma Gomes, 4 por Urbano de Carvalho e 5 por Maurício Sampaio. A expectativa é que o júri só seja finalizado na quarta-feira (9), mas o Tribunal de Justiça de Goiás explica que o prazo depende do desenrolar dos depoimentos.

Após o depoimento das 24 testemunhas listadas, a acusação e defesa devem apresentar suas argumentações aos jurados, parte que deve demorar pelo menos 9 horas.

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

As quatro testemunhas ouvidas no 1º dia foram:

  • Um colega de trabalho de Valério Luiz, que é testemunha da acusação, e que não quis ser identificado;
  • Hellyton Carvalho, delegado que esteve à frente das investigações, que concluiu o inquérito e remeteu à Justiça;
  • André Isac da Silva, radialista que também trabalhou com a vítima;
  • Daniel de Almeida Santana, advogado e cronista esportivo.
  • Irismar Dantas, interventor de cartório, que é testemunha da acusação.

Valério Luiz foi morto a tiros, aos 49 anos, quando saía da rádio em que trabalhava, no dia 5 de julho de 2012. Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público, o crime foi motivado pelas críticas constantes de Valério Luiz à diretoria do Atlético Goianiense, da qual Maurício Sampaio, um dos réus, era vice-diretor. Atualmente, ele é vice-presidente do Conselho de Administração.

Os cinco acusados do crime são:

Maurício Sampaio, apontado como mandante;

Urbano de Carvalho Malta, acusado de contratar o policial militar Ademá Figueiredo para cometer o homicídio contra o radialista;

Ademá Figueiredo Aguiar Filho, apontado como autor dos disparos que mataram Valério;

Marcus Vinícius Pereira Xavier, que teria ajudado os demais a planejar o homicídio do radialista;

Djalma Gomes da Silva, que teria ajudado no planejamento do assassinato e também atrapalhado as investigações.

Depoimento de Hellyton Carvalho

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

A segunda testemunha a ser ouvida pelo júri foi o delegado Hellyton Carvalho, que falou por mais de três horas. Antes de começar a responder perguntas dos presentes no júri, o delegado da Polícia Civil falou detalhes sobre a investigação do assassinato e como chegou aos acusados.

Hellyton Carvalho iniciou sua fala explicando que, no dia do crime, Marcus Vinícius foi deixado no local onde havia uma suposta viatura descaracterizada. Segundo o delegado, na sequência, Marcus teria entregue a Figueiredo uma arma deixada por Djalma, uma moto preta e uma camiseta velha. Urbano ainda teria pedido a Marcus que mudasse os números da placa da moto com uma fita, mas que ele havia tampado a placa inteira.

Logo depois, o delegado detalha que Figueredo saiu na moto escoltado por essa suposta viatura descaracterizada e posteriormente voltou depois e devolveu a moto e a arma ao Marcus. Hellyton Carvalho ainda contou que Marcus afirmou ter tido conhecimento da morte de Valério Luiz pelos noticiários naquele dia, mas ao saber das características do crime, “viu que teria sido Figueiredo”.

“Cabo Figueiredo negou e disse que sequer conhecia Marcos. Ele disse que estava no dia do crime na casa do jornalista Joel Datena. Joel confirmou que eles voltaram para casa na hora do almoço, mas ele (Joel) teria tirado um cochilo e não tinha como confirmar se Figueiredo havia saído de lá”, diz o delegado.

O delegado ainda explica que, ao ver as notícias, Marcus Vinicius perguntou a Djalma se Valério era o alvo do “susto” e o Djalma disse que sim. Após o crime, cabo Figueredo negou o crime e negou que sequer conhecia o Marcus Vinícius. No enquanto, durante as investigações, Hellyton Carvalho explica ter sido possível demonstrar que existia um vínculo entre o marcus vinícius e os policiais militares, a partir da quebra de sigilo telefônico dos investigados.

Ele explicou que, a partir da quebra de sigilo telefônico dos investigados, foram encontradas varias ligações de Marcos para o sargento Djalma e para o cabo Figueredo, além de ligações ao capitão Durvalino Câmara, que era chefe dos dois policiais.

Hellyton ainda disse que o acusado Marcus Vinícius contou que Urbano Malta habilitou telefones usando o nome de uma mulher, para planejar o crime. Segundo o delegado, a função de Urbano teria sido “ficar de olheiro” perto da rádio para avisar ao atirador que “viesse e executasse o crime”.

“O nome estava em um cheque sem fundos. Os telefones ficaram em poder dele”, complementou.

“Dias depois, teria sido entregue a ele (Marcus Vinícius) R$ 9 mil pela participação”, acrescentou.

O delegado ainda pontuou que, no dia do crime, houve contato entre Urbano e Maurício Sampaio no dia do crime.

“Ele [Urbano] esteve pessoalmente no cartório de Maurício Sampaio e deu a notícia pessoalmente a ele”, contou o delegado.

Hellyton conta que, no início da investigação, Coronel Urzeda (PM) foi até a delegacia, pediu para a delegada ir a uma reunião, e o capitão Câmara, chefe de Figueiredo e Djalma (todos PMs) informou que um dos participantes do crime era Marcus Vinícius.

Ao ser questionado pela promotoria, delegado Hellyton fala que a investigação foi aprofundada após uma carta apócrifa que chegou à Polícia Civil com denúncias sobre o crime.

“A relação do homicídio foi com a atividade profissional de Valério Luiz”, disse.

Ao ser questionado pela defesa, delegado Hellyton diz que não há nenhuma relação do crime com elementos de tráfico de drogas, já que, à época, o fato chegou a ser investigado.

O delegado Hellyton ainda disse que já havia uma animosidade entre Maurício Sampaio e Valério Luiz dois anos antes do crime.

Depoimento de André Isac da Silva

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O depoimento do radialista André Isac da Silva foi iniciado às 17h e durou cerca de duas horas, onde ele falou principalmente sobre sua relação com a vítima, Valério Luiz.

Em seu depoimento, o radialista explicou que Valério Luiz e Maurício Sampaio tinham uma boa relação, que foi afetada quando o jornalista começou a fazer críticas ao Atlético-GO. Além disso, explicou que Valério o aconselhou a não se envolver com assuntos polêmicos que envolvessem o Atlético-GO.

“Estávamos proibidos de entrar no Atlético e comecei a averiguar umas contratações que o time tinha feito e ele disse: “Não mexe com isso não, deixa a poeira abaixar””, contou André Isac.

Questionado por Valério Luiz Filho, advogado de acusação no processo do pai, André Isac que as criticas do Valério ao Atlético-GO estavam mais acentuadas no 1º primeiro semestre de 2012, mas considerou o fato como normal para o esporte.

“É normal. Quando o time está bem os torcedores elogiam, quando está mal criticam. Faz parte do esporte”, disse.

André Isac, que estava nos bastidores do programa no dia em que Valério fez uma de suas críticas mais famosas ao time, no momento em que falava sobre a renúncia de Maurício Sampaio do Atlético, explicou sobre a reação à fala do radialista.

“Meu amigo, você pode olhar em filme de aventura, quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora”, disse o radialista Valério Luiz, à época.

Ele ainda disse que Valério não chegou a mencionar o nome de Maurício em sua frase, mas que teria respondido a uma pergunta feita por outro jornalista. Já sobre a recepção a essa fala, André Isac disse que a única reação que percebeu foi a “carta que o Maurício também assina proibindo a gente de entrar no clube, declarando o Valério como pessoa não grata e a saída de Charlie Pereira”.

Em depoimento, André Isac também afirmou nunca ter visto Mauricio Sampaio ameaçar Valério Luiz ou qualquer outro jornalista que tenha feito críticas ao Atlético-GO.

O radialista André Isac ainda comentou que Valério Luiz falava quase diariamente na televisão em que trabalhava sobre as divergências que tinha com Maurício Sampaio. Apesar disso, caracterizou Valério como “profissional e pontual” no trabalho.

“Ele se preparava para o programa. No ar era polêmico, mas fora do ar era só diversão”, complementou.

Depoimento de Daniel de Almeida Santana

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O cronista esportivo Daniel Almeida Santana Reis foi a quarta testemunha a ser ouvida durante o primeiro dia de julgamento, que acontece em Goiânia. O depoimento foi iniciado às 19h20 e durou pouco mais de 1h. Em sua fala, o cronista, que já trabalhou com Valério Luiz, falou sobre vida profissional e a personalidade dele.

Questionado, por exemplo, sobre “Valério Luiz” fora do ambiente de trabalho, Daniel Santana o caracterizou como uma pessoa tranquila, ainda que a convivência deles tenha sido curta.

“Na convivência pessoal me deparei com uma pessoa oposta [ao profissional], calado, caseiro”, disse.

Em resposta a questionamentos realizados por Valério Luiz Filho, advogado de acusação no processo do pai, Daniel afirmou que o radialista constantemente costumava fazer comentários “em tom de denúncia” contra o Atlético.

Daniel ainda negou saber de quaisquer condutas de Valério Luiz quanto a possibilidade de um relacionamento extraconjugal, além de afirmar não ter ouvido falar de qualquer pessoa que Maurício teria tramado a morte de Valério Luiz. Ele também negou ter tido conhecimento, por parte de Valério, sobre o processo em que o radialista teria sido acionado após acusar um jogador de uso de drogas.

Depoimento de Irismar Dantas

(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O interventor do cartório, Irismar Dantas, que é testemunha de acusação, foi a última pessoa ser ouvida nesta segunda-feira (7). Seu depoimento foi iniciado às 20h30 e durou pouco mais de 20 minutos.

Em uma breve sessão, Irismar falou sobre ameaças recebidas de Mauricio Sampaio, ao assumir o cartório em julho de 2013 e demitir a esposa de Sampaio. A defesa de Mauricio o questionou sobre os registros da ocorrência e Irismar disse que chegou a registrar o caso na polícia, mas que não acompanhou.

A defesa também questionou o interventor sobre valores recebidos pelo cartorário, que foram apontados como cerca de R$ 9 milhões em um período de 9 meses, período em que ele foi interventor.

Com informações G1 Goiás.

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