Imprensa livre sob ataque: PF investiga movimentações financeiras do jornalista Glenn; PF é subordinada a Moro

A coluna de política nacional, assinada pelo jornalista Osmam Martins, não reflete a opinião do veículo, tampouco de colaboradores e outros colunistas do blog.

Reprodução Blog do Esmael;

Em nova resposta aos vazamentos revelados pelo site The Intercept, o Ministro da Justiça e ex-juiz federal, Sérgio Moro, adiantou, nesta terça (2), que a Polícia Federal investiga as movimentações financeiras de Glenn, editor do site. Durante participação do Ministro na Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, quando respondeu perguntas sobre o teor diálogos tornados públicos, o site O Antagonista anunciou a investigação do editor do Intercept.

Jornalistas e repórteres de todo o mundo classificaram a investigação como uma ‘tentativa de intimidação’. O coletivo pela liberdade de imprensa no mundo, Freedom Of The Press (Liberdade de Imprensa, em português) condenou dizendo não se tratar apenas de, ‘um ataque absurdo à liberdade de imprensa, mas também um claro abuso de poder’.

“Me parece que é uma tentativa de intimidação, temos que ver qual as fundamentações e as suspeitas que a PF tem sobre a vida de um jornalista como o Glenn, que é um jornalista respeitado, tem o prêmio Pulitzer, o Oscar do jornalismo, então pra essa investigação ser feita a PF deve ter algo muito consistente, e isso precisa vir a público. Se há uma investigação apenas para retaliar alguém é, sem dúvida, um ataque à liberdade de imprensa”, comentou o jornalista Kennedy Alencar, no jornal da CBN hoje de manhã.

O movimento contra o jornalista Glenn convoca a atuação de Moro, como chefe da PF, para se defender do desgaste gerado pelas mensagens publicadas pelo site. O conteúdo, se observado com cuidado, anulam ou ao menos questionam a figura imparcial construída pelo ex-juiz federal ao longo da Operação Lava-Jato, que levou a condenação do ex-presidente Lula, principal opositor de Bolsonaro.

No twitter, Glenn diz que nenhuma ‘intimidação’ ou ‘ameaça’ pode interromper a população de ter acesso ao conteúdo das mensagens dos procuradores e do juiz, obtidas via fonte anônima e asseguradas no artigo 5º, XIV, da Constituição Federal. Com a tag #LuteComoUmJornalista, setores da imprensa também saíram em defesa da liberdade no exercício da profissão e em alerta à censura, condenando Moro por intimidação ao editor do Intercept.

As ameaças, como escreve Glenn, ‘só servem para expor o verdadeiro rosto do Ministro: ele é simpático ao abuso do poder constituído’. Abrimos aqui um precende grave: até onde vai o poder constituído quando está sob controle de regimes autoritários? De figuras com apego ao poder?

As ditaduras, por exemplo, costumam ser centralizadas. O poder é sempre concentrado nas mãos de uma pessoa ou grupo que governa o Estado, com pouca ou nenhuma abertura para o debate político, atacando, claro, aqueles que o fazem. Os espaços de comunicação e deliberação costumam ser fortemente regulados ou suprimidos.

O movimento da Polícia Federal ameaça não só Glenn ou os jornalistas do Intercept, escolhidos como alvo por incomodar o poder central, mas o exercício do jornalismo investigativo em todo o Brasil. Sem fundamento, Moro nem ninguém pode utilizar o aparato estatal para intimidar jornalistas, o nome disso é abuso de poder.

Escrito por:

Osmam Martins tem 23 anos, é jornalista e assessor de comunicação.

Twitter: @omarttins_

A coluna de política nacional, assinada pelo jornalista Osmam Martins, não reflete a opinião do veículo, tampouco de colaboradores e outros colunistas do blog.

 

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