Homem que matou filha em Ipameri tinha histórico de violência familiar

Claudemar Bernardes dizia ainda estar casado mesmo a separação tendo ocorrido em 2020, e no dia do crime estava atrás da ex. Agressões eram constantes, dizem filhos.

Bruna Bernardes tentou impedir que pai invadisse sua residência – ( Foto: Reprodução / Redes Sociais)

As investigações sobre a morte da vendedora Bruna Bernardes da Silva, de 23 anos, por um disparo de espingarda dado pelo próprio pai, em uma chácara em Ipameri, em outubro de 2023, mostram um histórico de violência doméstica praticada pelo mecânico Claudemar Bernardes da Silva, de 47, contra a própria família, principalmente a ex-mulher, a doméstica Cristiane Santos Dias, de 51. Na noite do crime, Claudemar foi até a casa da filha atrás da ex, de quem estaria separado há 20 dias, por acreditar que a doméstica estava com outro homem no local.

Claudemar foi casado com a ex por 26 anos e juntos criaram três filhos, sendo a Bruna a caçula. Em depoimentos à Polícia Civil, os quatro retratam uma vida em família com muitas agressões e violências, de ordem física ou psicológica. A reportagem teve acesso ao inquérito policial e a outros documentos que mostram a versão do acusado para o crime, além da decisão judicial que o manteve preso enquanto aguarda julgamento. A audiência que definirá se o caso vai ser avaliado no tribunal de júri está prevista para esta semana.

Na noite de 28 de outubro, um sábado, Claudemar chegou na chácara da filha, na GO-330, e encontrou a casa toda fechada, com as portas e janelas trancadas. Bruna ouviu o barulho do carro e foi até a porta, sem abri-la, pedindo para que ele fosse embora porque estavam todos cansados. Porém, o mecânico insistia para ver a ex, mesmo com ameaça da filha de que chamaria a polícia. Quando ela falou que já estava ligando para pedir socorro, o mecânico teria começado a dar uma sequência de chutes na porta, segundo o genro, Max Uiller Silva, de 28 anos.

Para impedir que o pai arrombasse a porta, Bruna se colocou rente a ela, de costas. Em depoimento, Claudemar disse que foi para flagrar a ex com outro homem e então matar esta pessoa que ele imaginava existir.

Sem sucesso com os chutes, entretanto, ele sacou a arma e deu um único disparo em direção à porta. O tiro atravessou a estrutura de metal atingindo Bruna no pescoço por trás. O projétil ainda atingiu Max na barriga. Ele vinha do banheiro para a porta ao ouvir o que se passava.

Max contou na delegacia que ao chegar na sala para ajudar a esposa ouviu o tiro e viu Bruna caindo no chão, já sem nenhuma reação. Ela estava com um celular na mão. O projétil o atingiu na lateral esquerda da barriga, no braço e na região pubiana. Mesmo ferido, ele conseguiu sair de casa gritando por socorro e que ao ver que o sogro havia fugido pegou o carro e foi até um pronto-socorro.

O mecânico escapou em direção a uma fazenda a 50 km de Ipameri, onde foi localizado no dia seguinte pela Polícia Militar. Após a prisão, ele alegou ter sido um acidente, que não tinha intenção de matar a filha nem ferir o genro. Na Justiça, sua defesa tenta conseguir que ele seja solto e fique com monitoramento eletrônico.

Agressões antigas

Em depoimento à polícia, a ex de Claudemar afirmou que a relação sempre foi conturbada por causa da agressividade do mecânico, que frequentemente fazia ameaças contra a família. Ela relatou diversos episódios de violências e disse que em 2020 resolveu se separar por não aguentar mais as agressões. Ela morou sozinha por um tempo, mas como as ameaças não cessavam, decidiu morar com Bruna.

“Mesmo assim os episódios de violência continuaram, uma vez o autor (Claudemar) invadiu a casa onde a declarante morava, arrombando as portas e quebrando vários objetos, em outro episódio o autor quebrou a motocicleta da vítima e agrediu Bruna, nesse dia ele foi preso e no outro dia foi solto”, informa o boletim com a oitiva dela.

A espingarda estava registrada em nome de Claudemar, que diz possuir o certificado de registro para pessoa física para realizar atividades de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) desde 2019. Foi neste mesmo ano que ele adquiriu a arma usada no crime. Nos depoimentos, os familiares demonstraram indignação com o fato, visto que ele teria adquirido a arma já respondendo a um processo de violência doméstica.

Cristiane diz que o ex usava a arma para intimidá-la. “O autor sempre ameaçou a declarante de morte, já correu atrás da declarante armado, já inclusive parou um ônibus armado e entrou para matar a declarante, porém a declarante não registrou o fato que ocorreu há uns 7 meses.”

A doméstica destacou em depoimento que, mesmo após o fim da relação, o mecânico dizia que ainda estava casado com ela. E de fato em sua oitiva o mecânico afirmou que eles tinham reatado e que estariam separados novamente por apenas 20 dias antes do crime. Como ele mantinha convivência com a filha e o genro, usava disso para manter a aproximação intimidatória contra a ex.

“O autor sempre dizia para a declarante que ‘se você não vai ser minha, não será de ninguém, eu vou te matar e depois eu me mato, e quem estiver perto de você vai morrer’, que disse isso várias vezes, perto de familiares, inclusive as vítimas, Bruna e Max já ouviram ele falando isso”, consta na oitiva dela à Polícia Civil.

No sábado do crime, mãe e filha saíram com o genro em Goiânia para comprar roupas para um sobrinho que iria nascer naquela época e a doméstica resolveu ficar aquele dia na casa de uma amiga na capital. Neste dia, como sempre fazia quando a ex viajava, o mecânico passou a ligar insistentemente para ela e para Bruna, sem que nenhuma das duas atendesse.

A doméstica disse que tem medo de que, se conseguir a liberdade antes do julgamento, o ex vá atrás dela para matá-la e relatou ter ouvido isso de um familiar dele em tom de vingança.

Os filhos do casal, de 25 e 27 anos, confirmaram à Polícia Civil que presenciaram várias agressões dele contra a mãe desde a infância deles. Também afirmaram terem sido vítimas desta violência e que o pai quando não achava Cristiane dizia que ia matar todo mundo, inclusive os filhos, e depois se suicidar. “Todos ficavam apavorados com essas ameaças.” “Claudemar tinha o costume de chegar nos locais onde Cristiane morava com Bruna e Max e arrombar a porta, entrar e quebrar as coisas e agredir Cristiane, esse fato aconteceu por várias vezes”, disse a mais velha para a Polícia Civil.

Apesar de o mecânico dizer que saiu da casa da filha sem saber que ela estava morta e o genro baleado, uma pessoa contou à polícia ter recebido uma ligação de Claudemar ainda na noite de sábado informando que o tiro atingiu Bruna e Max e que pelo relato o acusado chegou a entrar na casa e viu o corpo da filha. Segundo a testemunha, é provável que o mecânico tenha entrado na residência mesmo após o crime para se certificar que se Cristiane estava no local para matá-la.

Com informações O POPULAR.

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