Goianira abre sepulturas em calçada de cemitério antigo

Medida gera discussão, pois município tem área disponível para sepultamentos que não é utilizada. Prefeito fala em viabilizar terceira opção até o fim do ano

Mais 1,5 metro para frente: operários abrem covas na calçada do cemitério antigo, no Setor Parque das Camélias (Foto: Diomício Gomes)

Para atender a demanda de sepultamentos em Goianira, o prefeito da cidade, Carlos Alberto Andrade Oliveira (PSDB), conhecido como Carlão, retomou uma medida polêmica. O muro do atual cemitério, que já está com a capacidade saturada, está sendo expandido para a calçada em 1,5 metro para dar mais espaço para as novas sepulturas. Com isso, moradores reclamam que o novo cemitério, que chegou a receber corpos, está abandonado. O prefeito informa que outra área para receber o novo cemitério definitivamente foi definida e espera que em 60 dias comece a funcionar.

As máquinas já trabalham na calçada ao redor do cemitério, que fica no Parque das Camélias, em Goianira. Esta medida começou a ser tomada há cerca de três anos e já abriu vagas para sepultamentos. Desta vez busca abrir mais cem espaços no total. Mas quem mora perto dali reclama. Uma moradora, que pediu para não ter o nome publicado, diz que não entende o motivo de usar a calçada se já existe um terreno, com placas informando ser o novo cemitério no Bairro Nova Goianira. “Já tem até gente enterrada lá. Não sei o motivo de fazer esta obra aqui. Ainda atrapalha a mobilidade do pedestre”, reclama a mulher.

Ela fala de uma área no Bairro Nova Goianira que havia sido definida na gestão municipal anterior como espaço para receber o novo cemitério. A reportagem esteve no local, que tem mato alto e cercas danificadas e algumas cruzes colocadas no chão. Existem outras sepulturas que foram abertas, mas não chegaram a ser utilizadas. A reportagem apurou que em torno de 25 pessoas já foram sepultadas no espaço, mas desde que o atual prefeito assumiu, ele se recusou a usar o local como cemitério.

Carlão diz que definiu uma nova área e que os restos mortais das pessoas que estão ali serão, em breve, transferidos para um local definitivo e apropriado. Mas ainda não existe data para isso. Um homem que diz ser parente de uma pessoa enterrada neste local afirma temer que vândalos possam vilipendiar os mortos dali. “Como estamos em ano eleitoral, muitas questões são levadas para este lado e a gente acaba com medo de se expor, mas é muito angustiante pensar que um parente seu não vai ter descanso nem depois da morte. A gente vive esperando essa notícia.”

Outro morador diz que a prefeitura decidiu mudar o endereço do novo cemitério depois de especulação de empresários. A área, localizada às margens da GO-070, perto do Morro da Macumba, é considerada valorizada na região e poderia implicar negativamente em vendas de lotes residenciais no bairro. A gestão municipal não confirma esta versão. O prefeito afirma que a nova área apresentada tem capacidade maior de atendimento das exigências para comportar um cemitério e diz que até que toda esta situação se resolva, os mortos da cidade serão enterrados nos espaços abertos nas calçadas do Parque das Camélias.

Para o gestor, não há nada de errado em abrir as vagas ao redor do atual cemitério, já que o espaço de 1,5 metro para o uso do pedestre estaria garantido. Ele afirma que a demanda por enterros aumentou na cidade por conta da pandemia da Covid-19, mas que ainda não impactou o serviço. A cidade tem três mortes confirmadas pela doença. Mas ele diz que estas novas sepulturas podem ser necessárias neste momento. Ele informa que o local só deverá ser usado até que o novo cemitério fique pronto. Carlão diz que a área já foi adquirida e que agora realiza a licitação para exploração do serviço.

Depois de emitidas todas as licenças, o local poderá começar a funcionar. Apesar de ter expectativa para dois meses, o prefeito diz que pode levar mais tempo, a depender da emissão das liberações. Mas ele acredita que ainda naeste ano o novo cemitério poderá ser inaugurado. O prefeito não adiantou o endereço do novo cemitério, mas disse que atenderá a demanda da cidade por muitos anos.

O problema com a falta de espaço para os sepultamentos na cidade é antigo. A abertura de vagas nas calçadas começaram há cerca de cinco anos. Em 2018 o atual prefeito inaugurou um ossário no lugar. A construção conta com gavetas para depósito de ossadas de indigentes e das pessoas que foram enterradas e esquecidas pelos familiares. Esta medida também foi tomada para ampliar as vagas de sepultamento. Além disso, as sepulturas já estão sendo construídas em gavetas, para que cada vaga comporte mais de uma pessoa. Mas o prefeito garante que isso só vai ocorrer até a inauguração do novo espaço.

Acordo previa uso de área

Um acordo entre o Ministério Público estadual e o antigo prefeito da cidade, Randel Miller de Assis Santos, não chegou a entrar em vigor. Em 2016 foi definido prazo de oito meses para que o novo cemitério passasse a funcionar com atendimento a diversas regras para preservação do meio ambiente, além das sanitárias. O então prefeito afirmou que cumpriria os tópicos listados no acordo e que no prazo definido a área de 21 mil m² passaria a atender a demanda da cidade.

Mas ele deixou a gestão e desde que o atual prefeito assumiu a prefeitura, o acordo não foi atendido. A reportagem entrou em contato com o MP, que disse que a prefeitura informou nova área para a construção do novo cemitério da cidade e então a discussão recomeçou. Mesmo com um novo espaço, o cemitério a ser construído precisará, necessariamente, atender aos critérios técnicos para este tipo de empreendimento, como manutenção de distância da área de fundo das sepulturas do nível do lençol freático; o funcionamento de um sistema de drenagem para captar o escoamento das águas pluviais e evitar erosões no perímetro e no interior do cemitério.

Outras regras também deverão ser atendidas na construção dos jazigos, como ter paredes de alvenaria e concreto na laje e nos fundos de cada vaga. O novo cemitério também precisará ter poços para monitoramento das águas subterrâneas. A prefeitura também deverá exigir das empresas funerárias da cidade, o uso de mantas absorventes de necrochorume para preservação do meio ambiente. O prefeito diz que, depois da licitação para escolha da empresa que vai explorar o local, serão atendidas  todas estas exigências.

Fonte: O Popular

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