Futuro responsável por fundo de infraestrutura diz ser “fundamental” duplicação de Goiânia a Catalão

Futuro titular da secretaria que destinará os recursos do fundo de infraestrutura que será abastecido pela contribuição do agro, Pedro Sales destaca rodovia que liga a capital até o município do sudeste goiano como prioritária; e prevê dificuldades na relação do governo de Goiás com representantes do setor

(Foto: Reprodução / Pedro Sales)

Futuro responsável pelo Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra), aprovado esta semana pela Assembleia Legislativa de Goiás e que recolherá a receita da contribuição do agro, o presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Obras (Goinfra), Pedro Sales, fala de rodovias que considera prioritárias e do clima de tensão com os ruralistas por conta da criação da taxa. Presente nas sessões de votação dos projetos na Alego, Pedro ouviu ataques de manifestantes e a determinação do presidente da Casa, Lissauer Vieira (PSD), para que saísse do plenário.

Sales afirma que o governo não está rompendo com o agro e que espera pacificação. “Nós não estamos renunciando a esse eleitor. Estamos acreditando que vamos convencê-lo como ele foi convencido no Mato Grosso. Não estamos abrindo mão de ninguém”, diz. “Quem vai convencê-los são as obras e a seriedade do trabalho”, completa o presidente da Goinfra.

O governo de Goiás espera arrecadar de R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão anualmente com a contribuição. O governador Ronaldo Caiado (UB) já anunciou a criação de uma secretaria para cuidar da infraestrutura e antecipou que Pedro Sales será o titular.

Como será a discussão sobre o porcentual de cobrança de cada produto agropecuário para definição do decreto de regulamentação?

Serão consideradas as condições de cada segmento. Existem casos e casos. A cana, por exemplo, foi a principal prejudicada na redução de alíquotas (de ICMS dos combustíveis), porque gerou uma aproximação da gasolina e do etanol, e aí o sujeito opta pela gasolina. Antes se optava pelo álcool e agora a desoneração aproximou demais os preços. Não é uma conjectura, eles têm como demonstrar isso. É preciso estar sensível a isso. O problema da carne já é outro. Do milho é outro. Tem de sentar com cada segmento e buscar um bom termo. Mas isso será tocado pela Secretaria da Economia e pela Secretaria Geral da Governadoria e terá a decisão do governador. Não vai passar por mim. Minha missão é gastar o dinheiro.

O sr. já acompanha as obras e as maiores demandas. Qual será a rodovia prioritária, a mais simbólica, do resultado dessa contribuição?

Tem uma rodovia que acho fundamental e estratégica e poderíamos fazer segmentos de duplicação. Não dá para fazer tudo numa gestão só, mas o governo pode deixar uma boa contribuição. É a duplicação de Goiânia até Catalão para ligar uma duplicação da saída do estado de Goiás com São Paulo. Começaríamos vindo de Catalão para Ipameri. Depois, Bela Vista-Cristianópolis, depois até Pires do Rio. Acho uma baita estratégia ter a capital do estado duplicada para a saída para São Paulo, que é o principal estado em atividade econômica. É uma grande joia logística. Tem também trechos de Rio Verde e Jataí, e Nordeste Goiano, onde precisamos de ligações importantes. Na Região Metropolitana, tem um pedido de ligação de Bela Vista cortando Hidrolândia e indo até Abadia de Goiás, que é como um pedaço de anel viário que teria para a capital. Acho essa obra fantástica, fundamental. Dá para fazer com o fundo. Cada regional do estado tem uma vocação, um apelo, uma obra importante, e vamos considerar isso. No Norte, tem um último município a que não se chega por asfalto, temos de fazer também.

Ainda sobre os porcentuais de contribuição, existe uma tabela da proposta inicial? Vão usar a mesma do Mato Grosso?

O que o governador nos pediu, inclusive antes de irmos a Mato Grosso conhecer o modelo de lá, foi para não nos posicionar de forma muito assimétrica nos insumos comuns porque isso, sim, gera solavancos na competitividade. Se estivermos parecidos, isso fica menos sensível. Se ficar 2% para soja num lugar e noutro, 0,5%, aí causa uma assimetria que gera efeito econômico. Ele pediu para observarmos como estão fazendo lá e tentar nos aproximar justamente para não causar muito desnível que possa ter reflexo nas escolhas econômicas dos agentes que atuam no setor.

Quantos contribuintes serão?

Não sei dizer. Esses dados a Economia vai fechar. São aqueles focos da cadeia onde ela converge. Na carne, o frigorífico. Na soja, o cerealista, o graneleiro. Tem uns pontos estratégicos da cadeia onde ela se concentra.

E como será a definição do Conselho Gestor, que vai definir e monitorar esses investimentos?

A ideia é que ele se aproxime do conselho do Mato Grosso, com uma composição entre os agentes de governo e as entidades. Agora, se a posição das entidades continuar sendo de total agressividade e falta de diálogo, vamos ter de redesenhar. Eu quero crer que vai aparecer alguém com um nível de sensatez e disposição de dialogar para participar e defendê-los, cobrar resultados, que é natural. Nós não estamos renunciando a esse eleitor. Estamos acreditando que vamos convencê-lo como ele foi convencido no Mato Grosso. Não estamos abrindo mão de ninguém, pensando que com esse pessoal acabou, algo assim. Não. Queremos acreditar que estarão conosco. Quem vai convencê-los são as obras e a seriedade do trabalho. Eles precisam também se acalmar para compreender isso e participar.

Até agora ninguém deu sinal de reconciliação?

Não, na verdade até agora os sinais são os piores. São de que não aceitam, que vão tumultuar. A conversa que me chega de grupos de WhatsApp é de uma hostilidade que não tem muita racionalidade. A gente entende que, num primeiro momento, há muita tensão, rejeição, mas acreditamos que as coisas caminham para uma convivência mais harmônica, com diálogo, para que todos tenham voz e participem da discussão sobre as obras importantes. As coisas têm um tempo de luto, vamos chamar assim. A tendência é que acalmem os ânimos. Acredito que, em um mês, até dois, e as pessoas vão se acalmar e participar da forma como o modelo foi concebido.

Os ruralistas mais radicais atacaram inclusive o presidente da Faeg, o deputado José Mário Schreiner. Ele deve ajudar nessa superação?
Ele estava numa posição muito delicada e acho que foi agredido injustamente. Se ele estivesse fazendo jogo duplo, o governo estaria feliz com ele, e o governo não está. O jogo dele foi pelo setor, no meu modo de ver. Ele é meu amigo, eu o conheço, e acho que ele foi injustiçado pelo setor. O governo compreendeu a posição dele e esperava que ia se manter neutro. Mas ele foi proativo, contra o governo e pelo setor. A defesa dele foi forte. Ele ficou entre a cruz e a espada, mas tomou posição pelo agro.

O governador acusou o produtor Rubens Prudente de ameaçar deputados e ter incitado a invasão do plenário. Sabe alguma informação sobre a participação dele?
O governador tem um nível de informação muito grande. Deve saber detalhes e manifestou o sentimento dele.

O sr. viu esse produtor na Assembleia? Viu algum movimento dele?
Eu devo tê-lo visto uma ou duas vezes na minha vida nessas inaugurações ou visitas de obras. Sei que é um grande produtor, é um grande exportador, trabalha com trading e é muito ligado ao Lissauer politicamente. Mas tenho pouca informação e não sei de detalhes da participação dele.

Mas o viu na Alego?
Não vi. Mas como a situação lá não estava segura para mim e eu temia pela minha própria integridade física, eu chegava por trás e entrava direto no plenário pela Copa, e nem ficava olhando para quem estava presente. Ficava conversando com os deputados, tirando dúvidas, fornecendo informações. Tentava acalmar a turma e estava botando a cara. O governo tem de apanhar junto. O motivo da minha presença era um gesto simbólico de solidariedade aos deputados, representando o governo. Naquele momento difícil, queríamos estar ao lado deles. Eu não fiquei transitando, vendo quem estava lá. Não posso afirmar que ele estava lá nem que tenha participado de algo.

O que achou da forma como o presidente Lissauer Vieira determinou que o sr. saísse do plenário da Alego?
Foi uma atitude típica de gente pequena. O certo seria solicitar a saída educadamente por meio de um auxiliar ou deputado da base. Toda vez que ele esteve na Goinfra, foi tratado com absoluto respeito e educação. Acaba revelando que preteri-lo de todas as posições que ele almejou foi o mais acertado. O insucesso dele tem sido marcado justamente pelo destempero. Ele teve muitos projetos em espaço curto de tempo e muita gente relata que perdeu valorosas oportunidades pelo destempero, pela falta de regularidade emocional e de uma posição clara. Foi mais uma demonstração disso. Ele viu que ia perder, não teve controle emocional e demonstrou falta de maturidade para conter os impulsos. Tem os rompantes e depois acaba sofrendo as consequências e perde as oportunidades.

O governador disse que os deputados que votaram a favor dos projetos vão participar da definição dos investimentos. Como vai ser?
A gente tem de ouvi-los. Tem de envolver os deputados de cada região e fazer um trabalho de apropriação política por parte dos deputados.. Há agora uma débito do governo de creditar os ganhos políticos aos parlamentares e prefeitos favoráveis. Na composição do Conselho Gestor, os representantes do governo vão defender o protagonismo dos deputados.

Quem deve participar do Conselho por parte do governo estadual?
Certamente haverá representantes da Infraestrutura, da Economia e da SGG, as pastas envolvidas na contribuição e nos investimentos. Pode ser que o governador queira indicar mais alguém. Assim como no Mato Grosso, o conselho é paritário. Lá, havendo empate, o titular da Infraestrutura é o voto de minerva. Aqui isso vai ser definido em decreto.

O diretor do Dnit Lucas Alberto Vissoto Júnior será o presidente da Goinfra, conforme o Giro mostrou esta semana?
Não há certeza ainda. É um excelente nome, técnico, com brilhante currículo, mas ainda depende de alguns fatores, como a liberação por parte do governo federal e se a reforma administrativa daqui sairá agora em seguida ou vai demorar mais. É um candidato, um nome bem possível.

Mas a intenção é fazer a reforma ainda este ano, não?
Acredito que sim. Era a ideia original. Não sei se haverá alguma influência dessas últimas votações. Eu também não achava que o processo terminaria com uma cicatriz como essa. Então não sei se o governador vai ponderar, se vai mandar isso agora ou não. Será a avaliação política dele.

Com essa presença constante na Alego nos últimos dias, acha que o processo de tramitação dos projetos do agro influencia na disputa pela presidência da Casa? O líder do Governo, Bruno Peixoto, ficou mais forte?
Eu não posso dizer que será o Bruno (o próximo presidente), mas eu acho que ele se fortaleceu muito. Sai grande do episódio porque foi muito firme, muito diligente e muito companheiro. Foi o cara que manteve o grupo unido, que articulou para não deixar ninguém desgarrar. Quem estava balançado, ele trabalhou no convencimento. Foi um protagonista. Quem é protagonista de uma vitória como essa sai fortalecido. Mas não sei se será, porque não passa por mim e não vi nenhuma sinalização oficial disso. Como candidato, vejo que sai mais forte.

Fonte: O Popular

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