Enterro de jovem abusada em UTI de Goiânia foi interrompido para exame em corpo

Família de estudante foi informada do abuso durante velório. Suspeito se apresentou nesta quarta-feira (29) em Goiânia.

Foto: Fábio Lima

A família da estudante de Arquitetura Susy Nogueira Cavalcante, de 21 anos, estuprada por um técnico em enfermagem enquanto estava internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Goiânia, só foi informada a respeito do abuso momentos antes do enterro dela, no dia 27 de maio, no Cemitério Jardim das Palmeiras. O velório teve de ser interrompido para que o corpo fosse levado ao Instituto Médico Legal (IML) para realização de exames que possam comprovar o crime. As informações foram confirmadas por Darlan Alves Ferreira, advogado e amigo da família de Susy. O suspeito, Ildson Custodio Bastos, de 41 anos, está preso preventivamente.

Segundo a delegada responsável pela investigação do caso, Paula Meotti, o pai da vítima só soube do abuso, que teria ocorrido no primeiro dia de internação da jovem, por ela. A delegada informa que Susy não conseguiu relatar sobre o episódio ao pai porque logo após ela ter contado para uma enfermeira sobre a atitude do técnico em enfermagem ela teve uma piora no quadro e precisou ser entubada. “Ela conseguiu contar para a enfermeira, mas depois ela não conseguiu contar para os pais. Não teve tempo. Ela já foi piorando e acabou vindo a óbito.”

Susy foi internada no dia 16 de maio na UTI do Hospital Goiânia Leste, no Setor Leste Universitário, após crise de convulsão que, segundo relatos, teria ocorrido durante uma aula. Ela morreu no último domingo (26). A delegada informa que foi solicitado o exame cadavérico da vítima para identificar se teria alguma relação material entre os abusos e a morte.

De acordo com a delegada, o abuso ocorreu entre a noite do dia 16 e a madrugada do dia 17 deste mês. Ela diz que imagens da câmera da UTI, revelam que “a intenção do técnico de enfermagem” não era realizar um procedimento padrão da medicina ou da enfermagem. Segundo Paula, as cenas mostram que com a mão esquerda ele toca o rosto da vítima, “como que secando uma parte do rosto” enquanto introduz a mão direita por debaixo do lençol, na altura da genitália da vítima. “E a gente pode perceber que ele manipula essa genitália, tanto é que a vítima se contorce de maneira muito contundente, ela se mexe na cama, tenta se desvencilhar do agressor, inclusive quase caiu da cama e ele puxou ela de volta”.

A delegada ainda ressalta que no momento do episódio a vítima estava com os braços amarrados e entubada. “Ela não tinha condição alguma de oferecer qualquer tipo de resistência, além dela oscilar momentos de consciência e inconsciência. Então muito provavelmente ele acreditava que ela estava inconsciente no momento do abuso e confiou nisso para praticar esse ato libidinoso”, contou durante coletiva na tarde desta quarta-feira (29), horas após a apresentação de Ildson na Delegacia da Mulher, no centro da capital.

Foto: Fábio Lima

A Organização Goiana de Terapia Intensiva (OGTI), empresa responsável pela UTI no hospital, em nota, disse ter recebido a denúncia de abuso sexual no dia 17 de maio, por meio de uma técnica de enfermagem para quem a estudante teria relatado o ocorrido. Segundo a empresa, no mesmo dia o técnico de enfermagem acusado pela paciente foi imediatamente suspenso e afastado da sua função e o boletim de ocorrência com a denúncia foi registrado pelos responsáveis da UTI na Delegacia da Mulher, no dia 21 de maio, mesma data em que o funcionário foi demitido por justa causa.

A OGTI, por meio de sua assessoria de imprensa, foi questionada pelo POPULAR do por que só procurou a delegacia para registrar a ocorrência quatro dias após tomar conhecimento do fato. Até o fechamento desta edição, a reportagem não recebeu resposta.

Ainda em nota, enviada anteriormente a esse questionamento, a OGTI informou que “além de ter tomado as medidas necessárias sobre a denúncia, coube aos diretores da empresa de UTI comunicar aos pais da paciente sobre o fato e sobre as medidas já tomadas”. Também afirmaram que “a causa da morte da paciente, em 26/05/2019, não possui qualquer relação com os tristes fatos ocorridos.”

Segundo a delegada, relatos do pai da vítima revelam que a estudante apresentava crises de convulsões desde os 14 anos de idade, mas ainda não havia um diagnóstico conclusivo sobre o quadro dela. Paula diz que de maneira material é difícil dizer que o abuso tenha relação com a causa da morte. Mas ela conta que segundo informações das testemunhas o quadro de Susy piorou muito depois do abuso. “Então a gente não sabe o que o fator emocional repercutiu para a piora do quadro dela, porque no dia seguinte do abuso sexual ela, em prantos, pede auxílio para outra enfermeira, pedindo pelo amor de Deus para que essa enfermeira cuidasse dela durante a noite.” Paula diz que o inquérito sobre o caso deve ser concluído até esta sexta-feira (31). (Colaborou Thiago Burigato).

Fonte: O Popular

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