Em Goiás, 33% dos inscritos faltam ao 1º dia do Enem 2021

Dados preliminares da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) apontam alta abstenção de estudantes para realização do exame. Nacionalmente, segundo Inep, valor chegou a 26%

(Foto: Zap Catalão)

Cerca de 33% dos alunos de Goiás que se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 não compareceram no primeiro dia de provas realizado neste domingo (21). Os números foram divulgados pela Secretaria de Estado de Educação de Goiás (Seduc-GO) e baseados em informações das regionais da pasta, que acompanham os estudantes cadastrados na rede estadual. O dado por estado, até o fechamento desta reportagem, não foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação da prova em todo o Brasil.

Nacionalmente, o Inep aponta que 26% dos inscritos faltaram neste primeiro dia. No Enem referente a 2020, que ocorreu no início deste ano, o índice de abstenção foi de 51,5% na primeira etapa de aplicação em todo o Brasil e 54% em Goiás. Os estudantes que compareceram neste domingo (21) realizaram provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, ciências humanas e suas tecnologias, além da redação, cujo o tema foi “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”.

O estudante que não compareceu neste primeiro por estar com sintomas de doenças infectocontagiosas, como a Covid-19, previstas nos editais do Enem 2021 poderá solicitar a reaplicação da prova ao Inep, entre os dias 29 deste mês e 3 de dezembro. É necessário anexar documentação que comprove a condição de saúde As provas, no caso de documentação aprovada, serão aplicadas nos dias 9 e 16 de janeiro de 2022. Apesar do número de abstenções, a aplicação da prova foi considerada tranquila em Goiás.

A Seduc registrou falta de energia nas cidades de Valparaíso de Goiás, na região do Entorno do Distrito Federal (DF), e Porangatu, no Norte do estado. Mas a secretária Fátima Gavioli afirmou que a situação foi resolvida sem prejuízo aos estudantes. Além disso, foram verificados casos de estudantes que deixaram de fazer a prova por não portarem documento de identificação com foto. Um deles foi João Vitor Vaz, de 19 anos, que está no último ano do ensino médio. “Esqueci minha identidade em Niquelândia. Estou apenas com minha certidão de nascimento. Achei que era suficiente. Fiquei chateado. Foi um ano inteiro de preparação”, relata.

Outro estudante foi retirado do local de prova em Goiânia porque o alarme do celular tocou já enquanto respondia a prova. O POPULAR esteve em alguns locais de provas e a maioria dos inscritos era adolescentes acompanhados dos pais esperando a abertura dos portões. À tarde, a reportagem acompanhou a saída dos estudantes que fizeram a prova no Câmpus Samambaia, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Eles deixaram o local após o horário permitido, o que também ocorreu sem intercorrências até o momento em que a reportagem permaneceu por lá.

Operadora de caixa de um restaurante, Daniele Leite, de 24 anos, decidiu fazer o Enem após cinco anos da conclusão do ensino médio. “Todo ano me inscrevo, mas não venho. Porém, decidi mudar. Estou ansiosa, pois consegui estudar pouco”, explica a jovem que sonha em cursar Ciências Aeronáuticas. Todos os inscritos que conversaram com o POPULAR afirmaram já ter se vacinado contra a Covid-19, estarem mais tranquilos no aspecto de saúde, e confiantes para fazer a prova do que em janeiro deste ano, quando ocorreu o Enem 2020. Na época, a vacinação contra a doença ainda não tinha começado.

Em relação à prova, a maior preocupação dos estudantes se deu com a redação. Apesar de ter afinidade com interpretação de texto, Eduardo Cândido, de 18 anos, estava ansioso. “Tenho medo. Eu não sei o que esperar sobre a redação deste ano.”

Segundo o professor de Língua Portuguesa e redação, Carlos André, ao abordar a temática da importância do registro civil para a visibilidade social o Enem exigiu que os estudantes dissertassem sobre cidadania. Para ele, era importante falar sobre o problema histórico da falta de identificação civil, em que muitas pessoas perdem acesso a direitos, incluindo a educação, por não portar documentos. “Eu pensaria em abordar a questão histórica e esse desafio pós-moderno”, afirma ao lembrar sobre a dificuldade de pessoas transgênero em conseguir o registro com o nome social.

Já para os professores Ademar Nogueira e Beto Ferreira, ambos do Colégio Prepara Enem (Cope), o tema da redação pode ser classificado como fácil e dentro do que o Inep já realizara nos últimos anos. “É sempre um tema social, pouco polêmico, de abrangência nacional e que pode ser evidente ou não. Neste caso não era, pois a maior parte dos alunos não sabe que as pessoas têm este problema”, diz Beto. Ele reforça que já havia abordado o tema em sala de aula, assim como Ademar. “Um dos fatores que me agradou é que manteve a pegada do Inep. A frase temática é completada pela coletânea de textos e fala na invisibilidade social pela falta de documentos, não poderia tratar apenas de um aspecto, como o nome social”, diz Ademar.

MEC nega interferência

Em entrevista coletiva após a realização do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que as questões contidas mostram que não houve interferência do governo no exame. Nos últimos dias, funcionários do Inep entregaram os cargos comissionados no instituto sob a alegação de que a presidência e o MEC censuravam questões que, na visão deles, tinham cunho ideológico. “Se tivesse interferência pode ser, dizendo hipoteticamente, que algumas perguntas não estivessem lá”, afirmou Ribeiro. O ministro classificou a aplicação do Enem neste primeiro dia como um sucesso e, sobre a abstenção de alunos, reforçou que o mais importante não seria o número de inscritos e sim a quantidade de alunos que realizou a prova. Isso porque o Enem 2021 teve o menor número de alunos interessados desde o ano de 2005. Apesar disso, em 2020, a abstenção passou de metade dos inscritos. Sobre este fato, em que 26% dos estudantes não fizeram a prova, Ribeiro argumentou que a culpa seria de quem ficou contra a volta do ensino presencial nas escolas públicas em razão da pandemia de Covid-19, e que o governo federal foi a favor do retorno.

*Com informações de O Popular

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