Centro de Internação Provisória, onde adolescentes morreram, deveria ter sido interditado em 2013

Governo de Goiás havia se comprometido a fechar local onde nove vítimas foram queimadas vivas. Servidores apontam falta de extintores de incêndio, o que é negado pelo Estado

(Foto: Thiago Burigato)

O Centro de Internação Provisória (CIP), onde nove adolescentes foram mortos e um ferido em incêndio na manhã desta sexta-feira (25), deveria ter sido fechado há cinco anos. Em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado em 2012, o governo de Goiás assumiu o compromisso da construção de novas unidades do sistema socioeducativo e o fechamento do CIP, já que ele funciona em um batalhão da Polícia Militar (PM), local considerado inadequado para alojar crianças e adolescentes infratores.

No final da manhã desta sexta-feira, dez adolescentes de um alojamento da ala A do CIP, que funciona dentro do 7º Batalhão da PM, no Jardim Europa, na Região Sudoeste de Goiânia, atearam fogo em um colchão do lado de fora da grade. A ação seria um protesto contra a possível transferência de internos. O grupo havia acabado de voltar de um atendimento socioeducativo, onde teria sido advertido porque estaria fazendo muito barulho durante a noite.

A manifestação, no entanto, deu errado. O fogo acabou entrando para dentro do alojamento e aumentou ao espalhar para outros colchões. No momento do incêndio, os servidores serviam o almoço na ala B da unidade. Ao perceberem as chamas, retiraram os internos dos outros três alojamentos da ala A, que foram colocados no banho de sol.

Enquanto isso, os próprios servidores tentaram apagar o fogo utilizando uma mangueira acoplada a um hidrante. A unidade estaria sem extintores de incêndio, segundo servidores ouvidos pela reportagem. O Governo de Goiás nega a falta de equipamentos necessários para o combate de incêndio no local.

Além da fumaça, uma outra dificuldade relatada pelos servidores era o calor. Um agente educador chegou a queimar a mão tentando abrir a grade da cela. Equipes dos Corpos de Bombeiros chegaram ao local e conseguiram apagar as chamas. Três adolescentes ainda estavam com vida. Eles conseguiram pular o fogo e tentaram se salvar no banheiro, onde ligaram o chuveiro. No entanto, dois morreram mesmo após tentativas de reanimação e um, de 15 anos, estava internado no Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia (Hugol) em estado gravíssimo até o fechamento desta edição. Os outros sete corpos foram encontrados carbonizados, amontoados em um canto do alojamento, que tem cerca de 15m².

“Foi muito rápido, os gritos acabaram logo”, relata um servidor que prefere não se identificar. “Meus colegas estão arrebentados psicologicamente, fizeram o que estava no alcance do atendimento. Ninguém é louco de deixar o povo pegar fogo”, desabafa. Um outro adolescente, que também ficava no alojamento, estava em atendimento médico no momento do protesto e escapou do incêndio.

Duas equipes da Polícia Técnico Científica estiveram no CIP na tarde desta sexta-feira. Uma para atuar em relação às mortes e outra de engenharia legal para determinar as causas do incêndio. A Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH) e a de Apuração de Atos Infracionais (Depai) investigam o caso.

Fonte: O Popular

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