Ahpaceg recua e diz que ocupação de UTIs exclusivas para pacientes com Covid-19 está em 31%

Após afirmar que vagas de UTI para casos suspeitos estavam esgotadas e para confirmados havia poucas unidades, entidade diz que se referia a caso pontual e que ocupação está em 31%

Haikal Helou diz que procura por internação cresceu nos últimos dias (Foto: Ahpaceg)

A taxa de ocupação dos leitos de UTI exclusivos para pacientes com Covid-19 dos hospitais particulares filiados à Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) estava em 31% nesta quinta-feira (21). É a primeira vez que a entidade divulga o porcentual e isso aconteceu após polêmica causada pela declaração de seu presidente, Haikal Helou, em entrevista ao POPULAR, na noite de quarta-feira (20), de que não havia mais leitos de UTI para casos suspeitos nas unidades filiadas.

Ao todo são cem vagas de UTI oferecidas para tratamento de casos suspeitos e confirmados de infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) nos hospitais da Ahpaceg. No dia 13 de maio, a associação soltou nota afirmando que a lotação dos leitos de UTI para Covid-19 girava em torno de 20% e que a ociosidade era grande. Uma semana depois, entretanto, o presidente da entidade mudou o tom e disse tanto em um áudio direcionado a uma autoridade política como ao POPULAR que a situação se agravou e que os leitos para casos suspeitos estavam esgotados e que restavam poucas vagas de UTI para os confirmados.

Após a repercussão da frase sobre a lotação, Helou voltou atrás e afirmou em coletiva na tarde seguinte que a situação está sob “controle” e que se tratou de um problema pontual em um único hospital “que durou algumas horas”. “A forma como isso é interpretado foge total do nosso controle. Não está lotado”, declarou.

Até então, a Ahpaceg só divulgava o número total de internados por Covid-19 distinguindo apenas os casos suspeitos dos confirmados, mas sem informar quantos estavam em leitos de UTI ou de enfermaria. Somando estes casos, o número de internações nas unidades filiadas passou de 56, no dia 13 de maio, para 71 no dia 20, quando surgiu a polêmica afirmação de Helou. No dia seguinte, este número caiu para 62.

A associação segue sem informar o número de leitos destinados para pacientes com suspeitas, que teria sido o foco do problema enfrentado por um dos filiados e que teria gerado o alerta de Helou. Em nota antes da coletiva, a associação informou que “registrou a escassez de leitos de UTI para a internação de pacientes com suspeita, que ainda aguardam o teste de diagnóstico da doença e necessitam de isolamento de pessoas com outras enfermidades e daquelas com a Covid-19 já confirmada”.

Durante a coletiva, Helou reforçou a preocupação com o risco de aumento da demanda por leitos com o relaxamento do respeito às regras de distanciamento social e isolamento constatados em Goiás, mas não conseguiu detalhar o quanto que a rede particular conseguiria ampliar a capacidade de leitos caso precisasse, considerando que desde o dia 13 a Ahpaceg tem destacado a ociosidade das outras vagas de UTI existentes nos hospitais filiados. Hoje, a rede da associação possui 500 leitos de UTI, incluindo os 100 exclusivos para Covid-19.

O porcentual de leitos de UTI ocupados na rede da Ahpaceg é menor do que em outras unidades, como a Maternidade Célia Câmara, da rede municipal de Goiânia, que nesta quinta-feira, estava com 26 dos 30 leitos ocupados (86,6% do total), e o Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia, da rede estadual, que estava com 24 dos 40 leitos preenchidos (60%). O Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap), que oferece 30 vagas de UTI para Covid-19, estava com apenas 6 delas ocupadas (20%) no dia 21.

“Recebi mensagens de ódio”, diz Helou

O presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), Haikal Helou, disse em coletiva na quinta-feira que após a notícia sobre o esgotamento de vagas na rede particular filiada à entidade recebeu mensagens de ódio e manifestações de muitas pessoas indignadas e confusas sobre a situação real da ocupação de leitos. Ele frisou que houve um mal-entendido e que “não tinha ideia de como uma notícia se espalhava”.

Helou também negou que a Ahpaceg esteja envolvida em algum movimento político ou agindo “pró ou contra alguém” e que a entidade tenta ser transparente com relação à situação da Covid-19 na rede particular. “Fazemos de boa fé, nós entendemos que divulgando (os dados) conseguimos dar uma tranquilidade (à população). Creio que estamos cumprindo nossa obrigação”, afirmou.

O presidente da Ahpaceg, entretanto, frisou que segue preocupante o crescimento de internações percebido nos últimos três dias, quando saltou de 58 no dia 19 para 71 dois dias depois, considerando leitos de UTI e enfermaria. Para ele, isso é prova de como a situação pode mudar drasticamente de forma rápida e alertou para que a população continue preocupada com as normas de distanciamento social e tente ficar mais tempo em casa. “Queremos tranquilizar, mas não a ponto de levar as pessoas a se comportarem de forma irresponsável.”

Ele destacou que ampliar o número de leitos na rede hoje envolve uma “grande complexidade” e que não é possível afirmar quantos mais poderiam ser reservados para Covid-19.

HCamp amplia número de leitos

O Hospital de Campanha para o Enfrentamento ao Coronavírus (HCamp) de Goiânia chegou na quarta-feira (20) a sua lotação máxima até o momento, com 28 pacientes internados em leitos críticos (nome dado para os de UTI).

Quatro dias antes, a unidade – inaugurada no dia 26 de março – havia ampliado a capacidade de 30 para 40 vagas e pode chegar até 70 conforme a demanda for aumentando.

O número de pessoas internadas varia bastante. Tanto que na quinta-feira à noite já havia caído para 21.

De acordo com a assessoria da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), as ampliações do HCamp “seguem um modelo estratégico de ajuste entre capacidade e demanda, em que previamente há a avaliação do cenário de vulnerabilidade, das taxas de incidência da Covid-19 e ainda a verificação do volume de casos solicitados pela regulação estadual.”
Ainda segundo a SES-GO, está prevista para os próximos dias a ampliação para mais 10 leitos, chegando aos 50 de UTI.

Até agora, 1.429 pessoas já foram atendidas pelo hospital sem que tenha havido uma mudança no perfil dos pacientes.

Apuração

A promotora da Área da Saúde do Centro de Apoio Operacional (CAO) do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), Karina D’Abruzzo, encaminhou nesta quinta-feira uma nota à imprensa afirmando que existe uma articulação para a criação de unidades exclusivas para pacientes com Covid-19 na rede particular “nos moldes do que tem sido feito pelo poder público com os hospitais de campanha”.

Unidade atinge 86,6% de lotação

A Maternidade Célia Câmara, unidade dedicada a casos de Covid-19 da rede municipal de Goiânia, atingiu nos últimos dias 86,6% da sua capacidade atual de leitos de UTI, com 26 das 30 vagas preenchidas. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da capital pediu nesta quinta-feira (21) a ampliação de mais 10 vagas, indo então para 40. A previsão é que isso ocorra em até 20 dias.

Inaugurada no dia 6 de abril, a maternidade – que funciona como um hospital de campanha municipal – começou com 10 leitos de UTI e ampliou para 30 no começo de maio. Até o dia 11 deste mês se manteve com uma taxa de ocupação de menos de 50%, mas a partir de então foi vendo a lotação aumentar. A partir de terça-feira, passou os 80%. De acordo com a assessoria da unidade, chegou a ficar em 90% por um tempo.

A superintendente de Regulação e Políticas de Saúde da SMS de Goiânia, Andréia Alcântara, informou que a lotação dos leitos de Covid-19 regulados pelo município estava em 70%, mas incluindo o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), que oferece dez leitos e estava com cinco ocupados.

Andréia afirma que a maternidade tem capacidade máxima para abrigar até 180 leitos de UTI, se necessário, mas que até o momento a Prefeitura trabalha com um limite de 50, sendo que por enquanto o pedido é para que chegue a 40 vagas. O crescimento é proporcional à demanda e ela garante que não há risco de não haver vagas considerando a demanda atual e o crescimento verificado de casos de infecção pelo coronavírus. “Estamos com níveis controláveis”, afirmou.

O perfil do paciente que procura os leitos municipais segue o mesmo desde o começo e, segundo Andréia, o aumento nos últimos dias se deve à redução dos índices de isolamento verificados em Goiânia. Ela explica que quanto mais pessoas circulam nas ruas, maior é o número de pessoas que contraem o novo coronavírus.

A superintendente diz que o mesmo problema é verificado no interior, com reflexo na rede municipal de Goiânia, uma vez que pacientes de todo o Estado com Covid-19 e certas especificidades, como gravidez ou enfarte, não são atendidos pelo Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia, mas, sim, pelo HC. “Por isso a flexibilização no interior impacta aqui.”

Fonte: O Popular

Comentários